Psicologia 27/03/2025 18:24:46
Falar da adolescência e dos adolescentes sem considerar aqueles que por eles são responsáveis é atribuir exclusivamente a eles a carga dos atos que vivenciam no cotidiano, como se fossem autossuficientes e já pudessem agir por conta própria. É uma fantasia, como se a adolescência surgisse sem um ambiente familiar, uma comunidade ao redor e uma estrutura social, geopolítica e cultural que definem seus traços e características
Sabemos que cada indivíduo constrói sua identidade dentro de sua singularidade e individualidade, o que justifica o processo de psicoterapia individual para que cada pessoa se encontre consigo mesma. Porém, a psicanálise nos mostra que o indivíduo está inserido no coletivo. O que escutamos enquanto analistas está impregnado de cenas e cenários do cotidiano, e, na adolescência, isso não é diferente.
O impacto do meio social na saúde mental
Quando falamos de um adulto, podemos atribuir-lhe responsabilidade direta por seus atos, sim, mas sempre considerando o meio social no qual está inserido. Não podemos dizer que aquele que não quer trabalhar, no Brasil, é pobre, pois a maioria absoluta dos trabalhadores continua pobre mesmo com todo o labor, conseguindo, no máximo, sobreviver ao dia a dia. Isso ocorre por vivermos em uma estrutura social marcada por um grande disparate econômico entre trabalhadores e empresários. Da mesma forma, não podemos atribuir uma crise emocional (como o pânico) simplesmente a uma desestruturação psíquica individual, pois os adultos são também vítimas do meio em que vivem. Ambientes sociais com altos índices de criminalidade e baixa segurança pública podem desencadear transtornos emocionais.
Se, nem dentre os adultos, podemos analisar comportamentos psicológicos de forma isolada, na adolescência isso é ainda menos adequado. Sabemos que essa fase é uma transição entre infância e a vida adulta, durando de 10 a 12 anos (aproximadamente dos 11 aos 22 anos). Mesmo assim, é somente por volta dos 29 anos que o indivíduo pode ser considerado plenamente adulto. Portanto, pensar a adolescência e falar sobre adolescentes exige um olhar para os agentes que sustentam sua vida. Esse olhar precisa ser amplo, indo além dos pais ou responsáveis legais, incluindo parentes, amigos, professores, autoridades públicas e representantes sociais que compõem o núcleo de vivência do adolescente. Todo o ecossistema.
Quando episódios traumáticos envolvendo adolescentes chocam a opinião pública, tendemos a analisar os casos de forma isolada, focando apenas nos adolescentes envolvidos. Assim, a visão sobre a adolescência se torna unilateral, destacando apenas aspectos negativos. Criticamos o adolescente isoladamente para não enxergar nossa própria participação nesses episódios. Negamos nossa relação com a adolescência porque não queremos confrontar nossa própria adolescência mal resolvida— o que chamo de "ecos da adolescência".
Na série da Netflix, “Adolescência”, que tem sido amplamente comentada nas redes sociais, o foco é colocado no adolescente, mas a narrativa nos leva a questionar como eles chegaram àquela situação. Queremos enxergar o adolescente, mas não os adultos que permitiram que ele chegasse ali, de uma forma ou de outra.
O papel dos adultos na construção da adolescência
O que o Poder Público está fazendo para dar suporte aos adolescentes no campo educacional? As escolas públicas que os acolhem a partir dos 11 anos estão descontextualizadas da realidade, oferecendo um ensino que já não atende às necessidades dessa faixa etária. No ensino privado, repete-se a fórmula dos modelos antigos, com promessas que nunca se concretizam. Além da educação, o que está sendo oferecido em termos de esporte, saúde pública, trabalho e outras áreas essenciais?
No campo jurídico, há um abandono na aplicação das regras de proteção aos adolescentes. Veja as redes sociais, comandadas por grupos estrangeiros, sem critérios de segurança adequados. Eventos noturnos ocorrem sem fiscalização sobre a presença de adolescentes nesses ambientes. Os conselhos tutelares, que deveriam garantir essa proteção, parecem existir apenas "para inglês ver", com pouca estrutura e efetividade. No campo legislativo, o que nossos políticos têm mostrado além da busca por benefícios pessoais?
E quanto aos pais e adultos, que supostamente passaram por uma adolescência bem resolvida? Muitos estão mais viciados em telas e redes sociais do que os próprios adolescentes. O abandono do adolescente dentro de casa ocorre tanto nas classes mais altas, devido ao excesso de benefícios, quanto nas mais baixas, pela falta de suporte. Assim, a adolescência hoje é uma questão que atravessa todas as classes sociais, cada uma com suas particularidades, mas todas marcadas pela negligência do olhar e do cuidado. E cuidar não se resume à estrutura material, mas sim a um compromisso afetivo, um vínculo real com aqueles que pertencem ao núcleo familiar e comunitário.
A dependência emocional dos adolescentes nos assusta pelos sintomas que emergem — sintomas desestruturantes e chocantes, que desafiam nossa capacidade de enxergar a realidade. Talvez os adolescentes estejam gritando através desses sintomas para que possamos, como adultos, finalmente vê-lo.
Mas há mais elementos favoráveis à vivência adolescente hoje do que desfavoráveis. O problema é que tais pontos positivos não ganham visibilidade, pois o que gera audiência é o espetáculo traumático.
Fica a pergunta: Você tem observado práticas adolescentes inspiradoras ao seu redor? Tem notado os ambientes onde adolescentes vivem experiências positivas de criatividade e alegria? Esses ambientes promovem um desenvolvimento saudável?
E você, como adulto, como tem convivido com os adolescentes à sua volta? Tem feito amizade com eles? Participado de suas atividades? Ou sua vida adulta hoje se resume a trabalho e a ver o tempo passar olhando para o celular? Aí é mais fácil dar foco às mazelas dos adolescentes.
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Psicologia 27/03/2025 18:24:46 78
Falar da adolescência e dos adolescentes sem considerar aquelesque por eles são responsáveis é atribuir exclusivamente aeles a carga dos atos que vivenciam no cotidiano, como se fossemautossuficientes e já pudessem agir por conta própria. É uma fantasia, como se a adolescênciasurgisse sem um ambiente familiar, uma comunidade ao redor e uma estruturasocial, geopolítica e cultural que definem seus ...
Psicologia 05/03/2025 14:51:06
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Psicologia 05/03/2025 14:51:06 91
Carnaval é tempo de colocar as repressões do cotidiano para passear. Tempo de abrir as grades que encadeiam nossas fantasias para fantasiar na rua. Tempo de afrouxar o autocontrole ou, como denomina a psicanálise freudiana, de soltar o supereu ou superego, o qual normatiza e nos enquadra por fatores morais, civis, religiosos e econômicos, mas também por castas, classes sociais e até gênero e/ou r...
Psicologia 27/02/2025 17:49:01
Os transtornos emocionais são sintomas que a mente desenvolve ao longo dos anos e que, há muito tempo, foram sistematizados por um código internacional de doenças que compreende mais de 350 itens e diversas variações. Hoje, todos que passam por uma consulta psiquiátrica correm o risco de serem detectados com algum transtorno emocional. Ao acessar a internet, podemos ler e entender sobre estes transtornos e, quem sabe, até nos autodiagnosticar. Existem transtornos para tudo, mas os mais relatados e comuns, que de fato ocorrem na clínica psicológica e que são mais frequentes na maioria dos consultórios psiquiátricos, incluem: Transtorno de Pânico, Ansiedade, Depressão, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e transtornos alimentares, como Bulimia e Anorexia.
Ao desconsiderarmos as possíveis causas diagnósticas que podem integrar um sintoma - como fatores relacionados a um quadro de saúde física, perdas parentais (luto), acidentes, fatores genéticos e cognitivos - percebemos que, na maior parte dos diagnósticos, não conseguimos identificar uma causa específica. Desta forma, observo, na minha clínica psicológica e dentro do referencial da escuta psicanalítica, que os transtornos emocionais são sintomas que refletimos ou que refletem elementos inconscientes que emergem para nos alertar. Prefiro entender que, ao longo da nossa história de vínculos afetivos com outros, na família e na sociedade, desenvolvemos sintomas, que, eventualmente, emergem como um vulcão em erupção.
Mas, de fato, criamos esses transtornos?
Acredito que sim. Muitas vezes, para permanecermos na mesma posição onde precisamos nos fixar. Em outras, para tirar vantagem nas relações com os outros. Ou porque fomos educados sob um forte apelo repressor, onde as emoções e os pensamentos não puderam se manifestar. No entanto, em algum momento, essas emoções se manifestam em forma de sintomas, causando uma série de problemas, visto que cada sintoma, sendo codificado entre as diferentes categorias emocionais, envolve, sim, sofrimento. A clínica psicológica, com referencial teórico e técnico da psicanálise, vê nos sintomas a emergência do inconsciente, isto é, aquilo ao qual até então não tínhamos acesso ou resistimos em sentir.
Assim, a psicoterapia e/ou análise são formas de ajuda profissional ao paciente para que este possa se encontrar com as fantasias desenvolvidas na forma de sintomas emocionais. O processo leva o paciente, primeiramente, a escutar os sintomas, vê-los, senti-los e mapeá-los. Depois, é conduzido a pensar no porquê, ao longo da sua história, foi preciso criar um sintoma emocional e como saber conversar com sua própria fantasia. No entanto, isso leva tempo, pois, no primeiro momento, o paciente reluta em entender ou aceitar que se trata de uma fantasia construída ao longo dos anos. Essa resistência é agravada quando o paciente já tem um diagnóstico definido e uma orientação médica de que precisará de medicação para sempre, e que a medicação dificilmente sairá do paciente.
Esse é um ponto que frequentemente gera conflito entre a visão da psiquiatria, encravada no código internacional das doenças emocionais - com apoio de laboratórios que sustentam essas pesquisas de resultados dos transtornos - e a psicanálise, que acredita na possibilidade de ouvir os sintomas, elaborá-los e assim reposicionar-se, levando à melhora do quadro.
Lidar com os sintomas emocionais é possível
Sempre digo aos meus pacientes que eles são tão criativos que conseguem até criar sintomas emocionais, acreditar na própria criação e fazer com que muitos ao seu redor também acreditem. Contudo, essa minha posição pode nos levar a uma tentativa de banalizar os transtornos emocionais. É importante lembrar que um transtorno emocional precisa ser tratado com respeito, sendo necessária uma avaliação psiquiátrica e o uso de medicação em muitos casos. Em alguns quadros, o transtorno emocional se torna uma característica permanente do indivíduo, o que pode exigir medicação contínua. Em casos de transtornos psicóticos, por exemplo, uma boa condução medicamentosa e psicoterapêutica pode permitir que o paciente leve uma vida normal, mesmo com o transtorno definitivo. Eu atendo pacientes esquizofrênicos que aprenderam a lidar com o transtorno e convivem bem em sociedade.
No entanto, no cotidiano e no processo de interação, todos nós temos resquícios de transtornos emocionais. Mesmo quando associado a medicamentos, o tratamento pode levar à alta medicamentosa. Esse processo ajuda o paciente a não negar os sintomas, mas a se encontrar com eles, entender o motivo pelo qual os criou e desfazer a fantasia que os originou. Lembre-se de que, na maioria dos casos, o tratamento não é a eliminação dos sintomas, mas sim a capacidade de dialogar com eles. Se o sintoma criado for monstruoso para o paciente e o levar a temer vê-lo, o tratamento pode permitir que ele enfrente seu próprio monstro.
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Psicologia 27/02/2025 17:49:01 74
Os transtornos emocionais são sintomas que a mentedesenvolve ao longo dos anos e que, hámuito tempo, foram sistematizados por um código internacional de doenças que compreende mais de 350 itens e diversasvariações. Hoje, todos que passam por uma consulta psiquiátrica correm o risco de serem detectados com algumtranstorno emocional. Ao acessar a internet, podemos ler e entender sobre estestranstor...
Psicologia 20/02/2025 14:53:54
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Psicologia 20/02/2025 14:53:54 70
Uma problemática que, aparentemente, é vista como irrisória na saúde sexual masculina, é o aumento do número de homens que precisam amputar o pênis, tendo como principal fator, o Câncer. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, a partir de informações hospitalares do SUS, a média de homens que necessitam amputar o pênis por ano passa dos 480 casos. Como a incidência equivale a uma ...
Psicologia 13/02/2025 17:42:37
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Psicologia 13/02/2025 17:42:37 110
Esta é uma questão de difícil resposta, pois podemos ter namoros que, aos olhos de quem está diretamente envolvido na relação, pode estar sendo avaliado como muito favorável, mesmo que represente uma relação tóxica e/ou imatura aos olhos de terceiros. Como posso dizer que, no namoro em que um dos parceiros apresenta sintomas emocionais patológicos, aquela relação não vai dar certo ou não s...
Psicologia 18/12/2024 07:37:06
Este tema que escrevo hoje é inspirado na letra e música de Milton Nascimento, “Sorriso”. Nesta canção, Milton inicia citando um poema de um frade dominicano do século XIV Maitre Eckhart que diz:
"O pai sorri para o filho
E o filho sorri para o pai
E o sorriso faz nascer o prazer
E o prazer faz nascer a alegria
E a alegria faz nascer o amor."
Lembro-me de quando meu filho Hélder Manacô, ainda bem, pequeno dizia “sórri” e todos riam desta forma de expressar o sorrir. E, no poema do frade, o amor nasce da alegria, que vem do prazer engendrado pelo sorriso.
O sorriso é expressão que só pode ser resultado e sintoma de encontro, encontrar-se.
Na canção de Milton Nascimento, “Diga a tua mãe que plantou esperança (...) Rosa sem espinho e dor”. Mãe que acolheu sorrindo, encantou como rosa sem espinho, fez brotar maternagem, para lembrarmos do Psicanalista Inglês Donald Winnicotti sobre as mães suficientemente boas, cuja imagem espelha o amor pela ponta final de um sorriso. Desde o início do sorriso da fecundação, ao sorriso de um ser em movimento no útero, ao sorriso do filho nos seios após um grito de dor, da dor do parto. Um encontrar-se, para outro projetar-se, espelhar.
Há um pai, que sorri para o filho, e, no reflexo espelhar, há um filho que sorri para seu pai. Encontrar-se com este terceiro, fazendo romper a simbiótica relação mãe/filhos no longo círculo do parto ao desmame, pois há um terceiro.
Fazer laços pelo ambiente onde o amor triunfou, a alegria inundou e o prazer do sorriso fez-se cotidiano. Nascer para novos encontros, espalhar-se em comunidade. Redes de apoio e de encontrar-se. E, como poetiza Milton Nascimento, “Diga a tua mãe que plantou esperança (...) Ajudar quem quer viver”. Fazer a História acontecer, de uma Sociedade poder viver a construção do amor e virar Civilização do Amor.
Quimera? Utopia? Fantasia?
Não fosse possível, não justificaria viver em função de promover no outro o encontra-se consigo mesmo no resgate de um amor, que, muitas vezes, pode parecer escondido ou até inexistente, por não se ter vivido em ambiente que potencializou o Amar. E, pela escuta psicanalítica, no processo de mão dupla entre analista e analisado, o sorriso pode brotar. Sintoma maior de uma alma onde habita o amor e o desejo de amar. Assim, como na construção incansável de levar os pais ou aqueles que se fazem pais, restabelecer ambiência que prevaleça o cuidado na alegria do prazer de se revitalizar o sorriso entre os olhares dos que habitam a mesma casa, comunidade, cidade, estado, nação e nosso habitat maior, o planeta Terra na sua infinita cosmologia.
Vamos fazer deste meu querer aquele que engendra o desejo do poeta Milton Nascimento: “Tudo o mais que eu queria é cumplicidade”.
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Psicologia 18/12/2024 07:37:06 1197
Estetema que escrevo hoje é inspirado na letra e música de Milton Nascimento,“Sorriso”. Nesta canção, Milton inicia citando um poema de um frade dominicanodo século XIV Maitre Eckhart que diz: "O pai sorri para ofilho E o filho sorripara o paiE o sorriso faz nascer o prazer E oprazer faz nascer a alegria E a alegria faz nascer o amor." Lembro-mede quando meu filho Hélder Manacô, ain...
Psicologia 25/11/2024 17:50:33
Muito tem se falado sobre a saúde emocional e processos de prevenção dos transtornos mentais. Mas observo que não estamos dando atenção aos hábitos pessoais que vamos adquirindo ao longo de nossas vidas, muitos deles nos conduzindo a tais transtornos.
Os hábitos pessoais são caracterizados por comportamentos que fazemos de forma repetida no cotidiano. Dia após dia, ano após ano, vamos repetindo os mesmos hábitos. Se não ficarmos atentos, vivemos mais por repetições de hábitos do que por consciência destes e atitudes que escolhemos vivenciar a cada dia.
Muitos animais tendem a criar hábitos, principalmente os domesticáveis. Aqui, vale muito os treinamentos comportamentais de animais domésticos para terem o maior número de hábitos repetidos a cada dia, o que torna mais fácil a convivência destes com os humanos. Outros animais não-domésticos vivem com hábitos codificados a nível cerebral, a ponto de espécies inteiras repetirem coletivamente o mesmo comportamento sem passar por treinamento, numa repetição de estrutura genética codificada. Por exemplo: As tartarugas marinhas, ao serem desovadas na praia, automaticamente caminham rumo ao mar até sentirem o toque de suas patas na areia da praia. Este processo dos filhotes faz memória cerebral a ponto de voltarem a desovar depois de 25 anos na mesma praia de origem, mesmo sem treinamento para tal.
Um cachorro cria o hábito de dormir no canto de uma parte da casa e dificilmente conseguimos fazer ele sair deste canto quando quer dormir após a consolidação deste costume. Sendo ele domesticável, é possível treiná-lo para dormir em outro canto que não invada a privacidade de quem também mora na casa. Porém, muitos cachorros conseguem até fazer seus donos dormirem no chão para que fiquem na cama, pois assim lhes foi permitido.
No caso dos humanos, é diferente. Podemos ser treinados para fazer as coisas do cotidiano de forma controlada / imposta, ou por processo de conscientização. Por exemplo, escovar os dentes, que se for imposto controle, poderá levar o sujeito a só fazer se alguém mandar, ao contrário de fazê-lo por consciência da higiene bucal. Por isso, que neste exemplo específico do escovar os dentes, quando a família traz elementos lúdicos às crianças, fazendo com que entendam a importância da ação, não precisarão de alguém para ficar lembrando-as deste hábito. Lembro-me que tinha muita dificuldade em escovar meus dentes quando criança, mas, depois que assisti uma palestra na pré-escola de uma dentista que fez uma linda exposição sobre os perigos da não-escovação, fiquei preocupado com os efeitos negativos. Daí para frente, nunca mais deixei de escovar os dentes. E quantos foram os hábitos a nós impostos e que, na vida adulta, abandonamos por escolhas pessoais. Porém, há muitos outros hábitos que repetimos sem pensar por anos e anos de controle comportamental educacional dos pais.
Até aqui, parece que nem entrei no tema de nosso texto. Mas, para pensarmos em hábitos, precisamos entender como estes são introduzidos e se manifestam em nossas vidas. Hábitos podem ser destrutivos e construtivos. Podem promover saúde (física e emocional), ou destruir nosso corpo e levar-nos a transtornos emocionais. Se, por exemplo, a pessoa aprendeu desde criança a ir dormir muito tarde e, ao longo dos anos, sempre dormiu poucas horas de sono noturno, além dos prejuízos no desenvolvimento fisiológico, surge a predisposição para doenças fica um campo aberto. E, no movimento contrário, a pessoa que foi se habituando a dormir oito horas de sono noturno ao longo dos anos terá mais defesas fisiológicas e prevenção à saúde emocional.
Quando colocam a pessoa em estado de dependência, principalmente de substâncias químicas (lícitas e/ou ilícitas); quando há apego a eletrônicos que leva às perdas cognitivas, afastamento social e/ou depressão; quando o sono não faz ciclo de oito horas noturna e, ao longo dos anos, perde-se a subjetividade, acesso aos sonhos e consequente perda de produção das substâncias neuronais que promovem a regulação do humor e estímulo para agir no cotidiano; quando, ao longo da história pessoal, não se cultivou afetos entre entes queridos e ou amizades, por fazer parte de um processo educacional funcional que sempre prioriza a logística do existir.
Hoje, podemos dizer que uma exagerada dose de bebida alcoólica em um final de semana vai bloquear a produção de químicas neuronais de estímulo, podendo desencadear depressão, como também o não respeito ao hábito de sono noturno de oitos horas. Também a dependência dos eletrônicos, principalmente do celular ligado nas redes sociais até altas horas da noite, que faz o desenvolvimento da ansiedade e também das perdas produtivas e de criatividade. A vida sedentária, na qual a atividade física está descartada e há falta de presença em grupos de pessoas e amigos além do ambiente de trabalho. Pior é quando a pessoa se apega às notícias sempre negativas, e não se aprofunda nos fatos, onde a alienação e a percepção de mundo passa apenas pelo viés da crueldade que pode desenvolver pânicos e desesperança em relação ao futuro.
O hábito de não estudar e permanecer acomodado no que faz na prática sem aprofundar-se e o buscar conhecimentos que retiram do indivíduo recursos intelectuais e estratégias de pensar saídas em situações críticas. É muito complexo o tratamento de transtornos emocionais em pessoas que estão sem potencial de conhecimento por estarem estagnadas no processo de aprendizado e busca de conhecimentos. Com recursos de potencial do saber diverso, a pessoa consegue encontrar mais recursos em si mesma para auto percepção dos motivos que levaram a desencadear um transtorno emocional, e potencializa ações para sair do transtorno.
Quando, pelo transtorno, a pessoa passa a pautar sua existência, como, por exemplo, uma fobia social ou transtorno do sono, que pode levar ao hábito de nunca querer sair de casa; quando a depressão leva a pessoa a uma rotina de ficar deitada por muito tempo do dia ou ficar isolada em um canto da casa, sempre estar antenada às notícia ruins; quando uma ansiedade leva a hábitos alimentares como meio de se acalmar, podendo, inclusive, cair na obesidade; quando a ansiedade leva a pessoa a se tornar consumista compulsiva; quando pelo transtorno obsessivo compulsivo, desenvolve-se um apego à prática religiosa de repetições simbólicas e/ou apegos à objetos religiosos, chegando também a desenvolver hábitos de limpeza e de trancafiar a casa.
Podemos entender que hábitos podem, sim, desenvolver transtornos emocionais. O problema é quando tais transtornos formam hábitos, tornando mais difícil o processo de saída destes. Há um ditado popular que diz ser mais fácil criar uma nova religião do que eliminar um hábito.
Não podemos esquecer que, antes de sermos humanos, somos fundamentalmente animais. Temos forte tendência de vivermos como tal, movidos por necessidades meramente fisiológicas imediatas. A sapiência que pode fazer a diferença pelo nosso potencial de simbolização e consequente estrutura para o pensar, muitas vezes, não é utilizado e desta forma corremos sempre o risco de vivermos movidos pelas necessidades básicas do cotidiano.
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Psicologia 25/11/2024 17:50:33 1139
Muito tem se falado sobre a saúde emocional e processosde prevenção dos transtornos mentais. Mas observo que não estamosdando atenção aos hábitos pessoais que vamos adquirindo ao longode nossas vidas,muitos deles nos conduzindo a tais transtornos. Os hábitospessoais são caracterizados por comportamentos que fazemos de forma repetidano cotidiano. Dia após dia,ano após ano, vamos repetindo os mesm...
Psicologia 11/11/2024 15:14:55
Vivemos numa Sociedade de Consumo na qual as perdas são negadas e o ganho é ressaltado, frequentemente associando as primeiras à ideia da frustração, enquanto o prazer parece estar no ganho constante. O que importa é sempre vencer, e a satisfação se dá apenas em conquistar.
A partir desta dinâmica, somos constantemente bombardeados por estímulos ao consumo, os quais são promovidos pela Publicidade. A estética do consumo nos faz sentir constantemente insatisfeitos e com sentimento de menos valia, como se nunca fôssemos suficientemente bons ou completos. Assim, a Publicidade se aproveita das nossas inseguranças, prometendo preencher vazios que o consumo provoca, criando um ciclo vicioso problemático: Quanto mais consumimos, maior parece ser o buraco a ser preenchido.
Quando nos desenvolvemos com apego ao prazer imediato, focamos apenas no "agora", não desenvolvendo nosso potencial de busca. É a máxima do Desejo: O que busco, no que busco não encontro e, assim, continuo desejando. Surge então o sujeito desejante, que, contrário a esta lógica, se preenche com a busca por conhecimento e projetos de vida, conquistas que constroem uma base emocional mais sólida. Este indivíduo terá melhores condições de lidar com a tentação do consumo e a necessidade constante de gratificação imediata. Podemos dizer que, estruturalmente, ao longo da vida, podemos desenvolver a capacidade de lidar com buscas de longo prazo e com as perdas inerentes ao cotidiano, criando uma saúde emocional mais robusta e com menores chances de cair nas armadilhas do consumismo.
Quando começa a construção da capacidade de lidar com as perdas?
No entanto, essa construção começa desde cedo e depende da educação familiar. Crianças e adolescentes que aprendem a lidar com as perdas se estruturam emocionalmente de forma mais saudável. A cada dia, vivemos perdas: A perda do dia que passou, as transições de fase no desenvolvimento humano, renúncias inerentes às escolhas que fazemos, entre outras. Todas perdas decorrentes do processo da Existência. Sempre que escolhemos algo, abrimos mão de outra coisa. A vida, em sua essência, é feita de perdas. A Morte, por exemplo, é uma inevitabilidade que nos confronta do início ao fim. Vivemos com a ideia de que um dia enfrentaremos a morte, mas numa Sociedade que só valoriza a Vida, fugimos tanto deste conceito que passamos a crer na vida eterna.
Quando, no processo educacional, os pais evitam que os filhos experimentem perdas e constantemente satisfazem seus desejos, eles acabam impedindo o desenvolvimento de uma busca saudável por parte da criança. É justamente através da perda que a criança aprende a buscar, e, por meio da busca pelo conhecimento, faz acontecer meios para suprir as perdas.
Se tudo chega facilmente, sem esforço, a criança não tem motivo para construir suas próprias conquistas. Se, ao longo da vida, a pessoa não aprende a lidar com as perdas, ela poderá desenvolver uma estrutura emocional frágil, sempre associada ao desprazer e ao sofrimento dum vazio interior, levando tal fragilidade emocional a possivelmente se manifestar em diversos transtornos. É interessante notar que crianças que enfrentam dificuldades de saúde nos primeiros anos de vida tendem a desenvolver maior resistência no cotidiano. Isso acontece porque os limites impostos pela saúde nos colocam em situações contínuas de perda, muitas vezes com risco de vida.
Se você é uma pessoa que tem dificuldade em lidar com perdas e se apega excessivamente ao consumismo, é importante buscar práticas e hábitos que permitam aprender a abrir mão de certos desejos e viver com menos. A princípio, você pode sentir ansiedade por estar se abstendo de algo, mas com o tempo poderá experimentar uma sensação de prazer diferente, que vem do fortalecimento da sua estrutura emocional.
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Psicologia 11/11/2024 15:14:55 1156
Vivemos numa Sociedadede Consumo na qual as perdas são negadas e o ganho é ressaltado, frequentemente associando as primeiras àideia da frustração, enquanto o prazer parece estar no ganho constante. O que importaé sempre vencer,e a satisfação se dá apenas em conquistar. A partir desta dinâmica, somos constantemente bombardeadospor estímulos ao consumo, os quais sãopromovidos pela Publicidade. A ...
Psicologia 06/11/2024 07:57:48
O foco do Novembro Azul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estão diretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao Machismo Estrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens na Sociedade. Por conta deste elemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido a fatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de toque) até a ideia de que fazer este tipo de prevenção é exagero e frescura. Diante desta situação, já me deparei com falas machistas, como “Isso é coisa de mulherzinha, que sempre querem ir a médicos...” e “Vou procurar uma médica para fazer o toque em mim, vai que rola...”, reiterando esta problemática.
É necessário trabalhar a prevenção ao Câncer de Próstata a partir do debate sobre a questão do homem na Sociedade como um todo - e aqui refiro ao todo de uma Sociedade Brasileira calcada num machismo que perpassa pelos homens primeiramente e também por uma posição de submissão de muitas mulheres. Deve-se pontuar, inclusive, esta problemática para as mulheres que ensaiam retrocesso pela indução de muitas seitas cristãs espalhadas pelo Brasil, as quais acentuam a ideia de que a mulher precisa seguir seus maridos e estarem sujeitas à eles, mesmo diante de vastos avanços para a eliminação do Patriarcado. Uma tendência ultraconservadora associada, inclusive, à política dentro da ideologia de extrema direita.
Estrutura machista e o mal que causa ao masculino
Com a estrutura machista, todo poder é dado ao homem. Isto fica evidente nas muitas instituições sociais no Brasil, onde estes ainda representam o gênero dominante, desde a política, poder judiciário, poder público, poder legislativo, universidades, religião, e até escolas de samba. Só para termos uma ilustração clara, na minha profissão de Psicologia, quase a totalidade dos profissionais são mulheres e, ainda, quem afere os melhores resultados financeiros no exercício profissional são os psicólogos.
Sendo assim, este conceito do “homem macho” que habita em nós (homens) por uma longa história de dominação na Sociedade deve ser dissolvido e transformado em um cidadão dignamente masculino e parceiro das cidadãs femininas, se baseando no diálogo pleno com as múltiplas orientações de gênero existentes na Sociedade. Porém, a ideia de dissolver o Machismo Estrutural parece causar forte ameaça ao público masculino adulto por seu apego a uma posição de poder e domínio da qual não querem abrir mão, acentuando esta problemática.
A partir de consultas de avaliação e diagnóstico ao câncer de próstata via método tradicional, tenho certeza que esta demanda não vai avançar. Ficaremos presos apenas ao processo clínico, como se cada homem se resumisse a uma grande próstata. Tenho passado por alguns exames destes anualmente e sei que o profissional ali não está lhe vendo como um cidadão inserido numa Sociedade. Há um olhar focado apenas no específico corporal. Até a leitura dos exames de sangue sugeridos é visto não em sua integralidade, com o processo sendo feito de forma tão rápida que o profissional sequer olha para seu rosto. E isto no meu caso específico, que ainda consigo pagar um plano de saúde. Imagine dentro de um SUS sucateado, que não está dando conta nem das necessidades básicas de saúde por uma miríade de fatores.
Diante destas observações, precisamos falar, sim, das várias instâncias e do fato de que uma pessoa não pode ser vista apenas no específico corporal. Como as campanhas de prevenção a qualquer tipo de doença focam muito no fisiológico, observo que estão atingindo muito pouco a consciência preventiva e de uma conexão integral do ser humano ao todo que compõe seu existir. E, se não nos posicionarmos no pensar a saúde do homem para além do fisiológico, o Novembro Azul pode (deliberadamente ou não) inclusive acentuar o machismo do homem pela via da virilidade e da potência sexual, tipo: -“faço os exames com medo de ‘brochar’... .
Mas como dissolver o Machismo Estrutural?
Você que está lendo este texto, que pode ser um homem ou uma mulher e que pode ter um parceiro homem, ou filhos homens ou alunos homens, parentes homens, etc. Como agir para dissolver a estrutura machista de nosso referencial cultural histórico? Vou passar aqui alguns pontos que podem ajudar:
1) Ao homem, reconhecer seu machismo em teoria e prática, pois uma coisa é o discurso antimachista, outra coisa é a prática. E, à mulher, observar se está enquadrada no patriarcado em que ela muitas vezes ressalta a posição da submissão ao homem.
2) Ao reconhecer, levantar os comportamentos que externam este machismo. Eu já fiz uma lista ampla de comportamentos que pretendo estar antenado para eliminar. E esta atitude deve ser uma pauta nesta construção. Vou lhes dar um exemplo: Tenho tendência de verbalizar palavras como “caralho”, “cacete”, “porra”, entre outras. Até para falar expressando algo que denote muito valor, solto um “bom pra caralho”. Lembro que, numa situação, assistindo ao jogo do meu time de coração (Corinthians) soltei estas falas no meio de um grupo de pessoas que também tinha mulheres, levando minha esposa a chamar minha atenção. Eu refutei. Até que tomei consciência e desejo de eliminar o meu machismo estrutural, entendendo que há peso até na forma de se xingar, ou comentar expressões de fortes sentimentos. É preciso se posicionar para eliminar este comportamento . Este meu exemplo pode ser banal, mas é representativo de uma estrutura. E o que é estrutural no comportamento de uma pessoa é revelado nas formas mais banais, em lapsos de linguagem, chistes, atos falhos, como já nos ensinou Freud em sua construção da teoria psicanalítica.
3) Estando em ambientes de trabalhos, observar se as condições de trabalho são equivalentes entre homens e mulheres, e, se não forem, se posicionar em busca da melhoria deste ambiente.
4) Nas pequenas ações cotidianas, focando em sair da posição de ajudante da parceira conjugal e/ou quando mora com familiares, onde os serviços de manutenção da casa estão sob responsabilidade duma mulher, pois quem é ajudante apenas auxilia o responsável direto por algo, como, por exemplo, o ajudante de pedreiro. Assim, substituir o ajudar em casa por fazer junto, como um compromisso pessoal no coletivo.
5) Para quem tem filhos que vivem juntos em casa, organizar a distribuição de tarefas na manutenção da casa, no fazer as refeições, transformando o lar num compromisso de todos. Esta forma de fazer é muito difícil de acontecer em residências que têm uma funcionária doméstica. Muitos pais acham que se já tem alguém para fazer, então para que levar todos a fazerem, desta forma reinará a estrutura machista. Pior é quando o homem da casa não faz nada dentro de casa por já trazer o dinheiro de sustento da família. Agrava também esta posição de machismo quando a mulher que está na condição de também responsável pela família acredita que, de fato, o homem provedor não deveria fazer nada dentro de casa.
Poderíamos enumerar inúmeros posicionamentos que podem ser listados pelos homens para a dissolução do machismo estrutural, mas o importante é que estes passos e procedimentos sejam elencados por cada um. Mas sei que, se esta iniciativa depender dos homens, não veremos muitas mudanças. As mulheres que podem provocar os homens que estão ao seu redor, pois, no final, a corda do machismo estoura na mão delas. E se há um pequeno avanço no pensar a Sociedade machista em vista de uma derrubada deste adoecer coletivo, devemos muito aos muitos movimentos de mulheres que estão gritando e agindo nesta Sociedade.
Agora, se tudo isto parecer balela ou parecer uma utopia inatingível, aí sim justifica aos homens se colocarem como um animalzinho nas filas de exames e diagnóstico do Câncer de Próstata, para apenas se preocuparem com o aparelho reprodutor masculino e sua virilidade. Restar-lhes-á então apenas este orgulho e a impotência do ser no Coletivo.
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Psicologia 06/11/2024 07:57:48 912
O foco do NovembroAzul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estãodiretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao MachismoEstrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens naSociedade. Por conta desteelemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido afatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de ...
Psicologia 29/10/2024 10:12:54
Se perguntar para qualquer pessoa andando pela rua se ela deseja ter Saúde Emocional, lógico que a resposta será “sim”. Mas, ao pensarmos neste assunto em particular, precisamos colocar com mais clareza do que estamos falando, detalhar o que é este conceito.
Considero a saúde emocional o resultado da vivência cotidiana de uma pessoa que é capaz de fazer escolhas por si mesma, preservando sua forma de ser e se colocar no mundo. Lógico que esta capacidade de fazer escolhas é muito relativa, pois o sujeito que deseja, por exemplo, sair matando outras pessoas, estará ferindo uma norma coletiva constitucional em que pessoas não podem matar outras pessoas. Mas, se tomarmos a ideia de escolhas enquanto forma de ser no mundo, identidade pessoal e singularidade na forma de ser, então podemos entender que saber os motivos pela qual está se agindo em diferentes situações do cotidiano, usando da autonomia para a própria escolha e da configuração de um cidadão com melhores condições de pontuar saúde emocional.
Do contrário, quando uma pessoa é regida pelas escolhas de terceiros em vez das próprias, viverá em um processo contínuo de dependência, e, consequentemente, se pré-disporá para uma não-autonomia na sua estrutura e subsequentes decisões, abrindo um campo de possibilidades de sintomas. E tais sintomas são resultados diretos de estruturas emocionais que vamos construindo ao longo dos anos e que eclodem em quadros bem definidos de transtornos. Nesta altura, é possível questionar: Existem pessoas que se encontram na capacidade de viver plenamente a saúde emocional? E a resposta é simples: Sim, existem.
Como viver plenamente a saúde emocional?
Se este caminho não fosse possível, não teria sentido a Psicologia e suas várias formas e tendências de desenvolvimento teórico e técnico. O problema é que confundimos a questão de vivenciar a saúde emocional com não passar por sofrimentos, dúvidas ou problemas. Pelo contrário, o sujeito que se apresenta com saúde emocional não vai negar seus problemas e desafios a superar, mas vai entender os motivos e se posicionar sobre eles, assumindo uma escolha no processo. Exemplo: Pessoas que estão com sintomas de depressão, mas conseguem entender sua situação e busca compreender a origem para se posicionar de modo a sair deste quadro. Neste exemplo, não estou dizendo que uma pessoa com saúde emocional não passe por uma depressão, mas que, ao trilhar o caminho da saúde emocional, a pessoa poderá passar por sintomas que ameacem a sua saúde, mas se colocará na busca se um caminho para sair da situação sintomática. Do contrário, alguém que não se enquadra no esquema de saúde emocional, vai negar a depressão e, consequentemente, não buscará ajuda.
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Psicologia 29/10/2024 10:12:54 1125
Se perguntar para qualquer pessoa andando pela rua se eladeseja ter Saúde Emocional, lógico que a resposta será “sim”. Mas, ao pensarmosneste assunto em particular, precisamos colocar com mais clareza do que estamosfalando, detalhar o que é este conceito. Considero a saúde emocional o resultado da vivênciacotidiana de uma pessoa que é capaz de fazerescolhas por si mesma, preservando sua forma de...
Psicologia 22/10/2024 15:31:15
O desmame tem uma importância estruturante na vida de todas as pessoas. Não representa apenas uma demanda biológica, configurando uma etapa de mudança de fase que terá forte importância na configuração da estrutura psíquica da pessoa, independente da filiação dos seios nos quais foi amamentada. Todos passamos por este processo e temos marcas em nossa personalidade (ou melhor, em nossa estrutura emocional) decorrentes desta fase.
Desde a fecundação, passando por toda a gravidez até chegar no processo de desmame, mãe e filho estão vinculados numa mesma estrutura psíquica, que podemos chamar de simbiose materno/filial, em que há uma inter-relação mútua. E, mesmo que uma criança não tenha sua mãe biológica, mamando em outra mulher e/ou via mamadeira, a interação simbiótica se dá neste longo ciclo de existir até o desmame. A configuração de mãe, para o entendimento da psicanálise, não está diretamente relacionada apenas ao processo duma relação biológica, pois os vínculos se estabelecem por laços afetivos. Assim, precisamos sempre ressaltar a mãe como aquela que faz presença afetiva e que, inclusive, pode não ser uma pessoa do sexo feminino. Por isso que, quando nos perguntam se um casal homoafetivo masculino pode adotar uma criança ainda bebê, podemos afirmar que sim.
O desmame vai representar a passagem de fase
Dentro das perspectivas da psicanálise a partir de Melane Klein, Winnicott e Dolto, assim como o próprio Lacan, que pouco escreveu sobre crianças, podemos entender que o desmame vai representar a passagem de uma fase de estabelecimento de vínculo estruturante para a entrada no processo da linguagem, das regras e, assim, da socialização. No texto de Lacan “Complexos Familiares” (1932), teremos uma clareza desta configuração e da importância do desmame para a evolução do sujeito na configuração de sua própria estrutura psíquica. Lacan vai dar o nome deste momento de “complexo do desmame”, onde mãe e filho são uma só pessoa. Mas então é possível questionar: “E as crianças abandonadas, que perderam o vínculo com a mãe desde o parto, e ou que foram bruscamente retiradas de suas mães, não vivenciaram este uma só pessoa em mãe e filho?”
Esta pergunta não deixa de ser complexa, pois, de fato, vemos com frequência a interrupção de vínculos de maneira tão catastrófica que podemos até não conseguirmos entender que uma criança desvinculada de sua mãe possa passar por este desmame de forma saudável - isto é, que a projete para novas etapas da vida de forma propulsora, estimuladora. E, de fato, vemos ser instauradas muitas “desestruturas” psíquicas por conta destas interrupções abruptas. Também, em muitos processos nos quais, mesmo tendo todas as estruturas de suporte, logística e referenciais de vínculos aparentemente saudáveis e/ou padronizados num modelo adequado, poderemos ter perdas de vínculos afetivos onde prevaleceu a logística e a funcionalidade materna.
Desta forma, é fundamental que todas as frentes de atendimento às crianças nos primeiros anos de vida sejam configuradas por profissionais com conhecimento da estrutura do desenvolvimento emocional no início da vida de uma criança em suas mais diversas instâncias, desde o atendimento ao pré natal, até ao trabalho de parto (hospital), creches, cuidadores, familiares e/ou profissionais de instituições de acolhimento de passagem. Todos os profissionais devem estar devidamente preparados para a manutenção de laços afetivos.
Por isso, não basta ter uma graduação ou formação técnica para trabalhar com crianças. É preciso ter potencialidade para acolher de maneira que o profissional seja a extensão uterina da mãe pois, da fecundação até ao desmame, a criança estará absorta numa interação interina que vai se romper no desmame. Posto esta demanda, apresentarei aqui algumas prevenções importantes para que o processo de desmame aconteça dentro de uma estrutura viável. Lembrando que viável, em psicanálise, não representa livre de traumas e/ou conflitos, mas que possa potencializar a construção de uma estrutura psíquica que se evolua para uma autonomia de identidade, de singularidade.
O que observar para que o processo de desmame aconteça dentro de uma estrutura viável
Na Pediatria, se preconiza o desmame aos 2 anos de idade, levando-se em consideração as demandas biológicas e vitais numa sociedade com altos índices de famílias em estado de pobreza. Este critério colabora para que, pelo menos, o sujeito tenha melhor estrutura fisiológica. Mas, sendo esta uma necessidade fisiológica, é necessário estar atento para que o desmame tardio não esteja carregado de dependência simbiótica e dificuldade de rompimento da criança com sua mãe, criando uma disfunção na autonomia da criança.
Esta demanda também pode se dar mesmo que a criança não seja amamentada no seio materno, mas via mamadeira. Dentro do desenvolvimento da estrutura psíquica onde não podemos ver apenas demandas biológicas, o melhor caminho é desmamar uma criança aos seis meses de idade, ou com a aparição dos dentes, pois deste ponto em diante, o ato de amamentar torna-se sofrível para a mãe. Vale ressaltar que, mesmo que seja um processo via mamadeira, a perspectiva de avanço da criança para desenvolvimentos de novas habilidades e buscas justifica o desmame. Você já deve ter visto muitas crianças bem desenvolvidas apegadas em mamadeiras e até objetos similares, vide a chupeta.
O desmame tem, em si, o rompimento deste ciclo simbiótico para a entrada na relação com terceiros, onde a criança descobrirá que existe um mundo para além da figura materna. Retardar este desmame é potencializar o não-crescimento e não-estabelecimento de novos e outros vínculos. E este processo, quando não ocorre, pode predispor a criança a atrasos em seu desenvolvimento social e cognitivo. Desmamar é se encontrar com o que está ao seu redor, e dar asas a buscas, inclusive pelo conhecimento.
Ao longo dos anos e da evolução das formas de se viver em Sociedade, muitos mitos sobre o processo do desmame foram sendo formados no meio popular, tais quais: A fixação do ser humano ao seio feminino (principalmente nos homens), fator que não tem equivalência com a amamentação e referem a outra demanda na vida do adulto, levando à erotização do ato de amamentar, dificultando ainda hoje para que mulheres ofereçam seus seios aos filhos bebês em ambientes públicos; Que o desmame pode levar a uma fixação alcoólica, por não ter desmamado (ou pelo trauma do desmame), num equívoco grosseiro, visto que o alcoolismo é uma doença de estrutura fisiológica; Fixação ao ato de fumar, como se o indivíduo fumasse para reviver o ato de amamentar quando, na verdade, é um hábito associado às químicas compostas no cigarro para gerar dependência física; dentre muitos outros mitos.
De tudo que discorri aqui neste texto, cabe ressaltar que a maior importância do desmame está categoricamente na construção dum sujeito que é colocado ou impulsionado para a construção de sua autonomia. Lembrando que a autonomia deve ser entendida para cada etapa da vida humana. A autonomia de um bebê de oito meses é diferente de uma criança aos 7 anos, ou de um adolescente de 13 anos, como também de um adulto de 40 anos, e assim sucessivamente. Mas a engrenagem da autonomia está de fato pontuada originariamente no processo de desmame.
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Psicologia 22/10/2024 15:31:15 1145
Odesmame tem uma importância estruturante na vida de todas as pessoas. Nãorepresenta apenas uma demanda biológica, configurando uma etapa de mudança defase que terá forte importância na configuração da estrutura psíquica dapessoa, independente da filiação dos seios nos quais foi amamentada. Todospassamos por este processo e temos marcasem nossa personalidade (oumelhor, em nossa estrutura emociona...
Psicologia 08/10/2024 09:44:40
O ambiente escolar não é um espaço tão simples como possa parecer. Vemos, ao longo de um ano educacional, o adoecimento de muitos professores e funcionários deste sistema. Também muitos são os alunos que, ao longo de tal período, adoecem emocionalmente.
No entanto, não podemos atribuir o adoecer emocional no ambiente educacional apenas à falta de estruturas e/ou demandas políticas que, na maioria dos municípios brasileiros, deixa a educação esquecida, como se não fosse prioridade. Mesmo se tivéssemos a educação como prioridade no Brasil, teríamos adoecimentos emocionais a partir deste coletivo. E aqui que foco o tema deste texto.
Quando digo que a Escola é um espaço do encontro das neuroses familiares, me refiro ao fato de que, no seio de cada família, habitam estruturas neuróticas pois, se assim não for, não há família nos moldes da nossa estrutura ocidental.
Porém, devo estabelecer aqui uma breve descrição, a meu entender, do que é neurose: Neuroses são sentimentos que derivam em comportamentos atípicos que, geralmente, estão associados a demandas negativas e que tiveram seu processo de fixação na estrutura psíquica do indivíduo. Podemos assim, confirmar que o estado “normal” de uma pessoa é ter neuroses particulares, tornando o indivíduo um neurótico, querendo ou não.
O coletivo das pessoas na comunidade escolar é o encontro de múltiplas neuroses
Pensando que a Escola é o encontro de pessoas derivadas de famílias, o coletivo das pessoas na comunidade escolar é o encontro de múltiplas neuroses. Uns com mais, outros com menos, mas todos com alguma neurose. Assim, ao encontrar-se diante dos desafios de despertar o aprendizado, teremos uma convergência de neuroses manifestas que transformam a Escola num espaço de tensões.
Imagine professores passando de 40 a 50 horas semanais em torno de uma comunidade escolar. Imagine as dezenas de crianças que chegam de suas casas com vivências diversas de relacionamentos com diferentes cargas e problemáticas. Profissionais técnicos e o corpo geral de servidores tendo que relacionar com um quantitativo enorme de crianças, também levando para dentro da Escola suas preocupações e neuroses pessoais. O resultado é um campo minado de emoções com forte carga de experiências negativas e fatores mal-elaborados por cada indivíduo nesta configuração.
Tenho plena convicção de que os profissionais que atuam no sistema educacional escolar deveriam ser os melhores remunerados, dada a grande carga emocional que absorvem por um longo período de tempo ao longo dos dias e das semanas, além de merecerem espaço de escuta e acolhida de suas próprias demandas emocionais por meio dum processo contínuo de apoio e supervisão.
A ilusão de que a escola é um local de liberdade, leveza e alegria, é um mito!
A ilusão de que a Escola possa ser um local de liberdade, leveza e alegria, é um mito. Se alguma escola vende esta imagem, está fazendo um jogo publicitário. Contudo, podemos fazer neste campo minado de emoções, um processo de gestão que possa amenizar os conflitos, acolher as diferenças e estabelecer projetos que incluam continuadamente as forças psicológicas características do ambiente escolar.
De cara, já podemos entender a emergência de profissionais de Psicologia Educacional para introduzir meios para a comunidade escolar e lidar com esta realidade que é inerente a tal espaço. Sabemos que temos uma lei federal aprovada e sancionada que prevê tais profissionais em cada unidade escolar, seja pública ou privada. Tal lei só não foi ainda sistematizada para se tornar uma realidade.
Colocados estes pontos, neste momento podemos indicar profilaxias para que o encontro das neuroses familiares estabelecido na comunidade escolar seja entendido e estabelecido dentro de uma possível convivência favorável ao processo de aprendizado com menor índice de estresse. Sendo assim, aponto aqui alguns passos:
1) Reconhecimento dos agentes administradores do sistema educacional que a Escola é, de fato, um espaço de encontro das neuroses. Muitos negam que portam neuroses pessoais, e este tipo de negação acaba penalizando alguns que as manifestam e viram bodes expiatórios de tal espaço quando incorporam doenças emocionais.
2) Transformar, de fato, o ambiente da Escola em uma estrutura agradável, com estímulos de cores e plena manutenção das estruturas físicas, com força no ambiente higienizado e visivelmente bem-cuidado.
3) Ter uma equipe interdisciplinar que gerencie projetos de integração e trocas de experiências em torno da comunidade escolar, contemplando não apenas quem está dentro da escola diariamente, mas os familiares e toda a comunidade em torno da Escola. Aqui, cabe a equipe de Profissionais da Psicologia para a escuta das manifestações emocionais dentro deste coletivo;
4) Abrir a Escola para ações que beneficiem a comunidade local, onde a mesma possa usufruir de sua estrutura para além dos horários letivos.
5) Ter produções artísticas e esportivas como um mecanismo de promoção e favorecimento da eliminação do estresse acumulado;
6) Revisar a carga horária de trabalho dos profissionais em torno da comunidade escolar, permitindo tempo de pesquisa, estudos continuados numa melhor distribuição de horas em sala de aula e atividades de capacitação pessoal, principalmente para o corpo técnico e de professores;
7) Eliminar as práticas religiosas como válvula de escape para amenizar as manifestações das emoções no ambiente escolar, pois neste coletivo há diversidades na forma de vivenciar e praticar a religião, e o espaço escolar é plural. As práticas religiosas que sejam vividas por cada família conforme suas escolhas pessoais.
Lógico que são dezenas de pontos a serem pensados em torno de ações para que as neuroses manifestas neste coletivo sejam acolhidas, entendidas e transformadas. Mas, mesmo que se chegue a um modelo plenamente satisfatório de Escola ideal, continuará havendo as manifestações das neuroses individuais. Pois, se assim não for, podemos ter a certeza que dentro desta Escola hipotética, pessoas vivas ali não se encontram mais.
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Psicologia 08/10/2024 09:44:40 886
O ambiente escolar não é um espaço tão simples como possa parecer.Vemos, ao longo de um anoeducacional, o adoecimento de muitos professores e funcionários deste sistema.Também muitos são os alunosque, ao longo de tal período, adoecememocionalmente. Noentanto, não podemos atribuir o adoecer emocional no ambiente educacionalapenas à falta de estruturas e/oudemandas políticas que, na maioria dos mu...
Psicologia 01/10/2024 14:59:31
No artigo que publiquei neste site no dia 17/09/2024, "Ser mãe é profissão?", falei sobre a atividade de ser mãe enquanto profissão e as dificuldades que emergem desta posição de mulher mãe. No artigo do dia 23/09/2024, "Quando ser mãe é sofrimento", desenvolvi os aspectos de sofrimento que uma mulher vivencia em torno do ser mãe. Agora, vou falar do prazer em ser mãe. E, para esta demanda, trarei também na forma de tópicos como tal prazer evolui na construção de uma identidade materna para a vida de uma mulher.
Primeiramente, a pergunta: É possível ser mãe pontuando mais prazer que sofrimento? Posso garantir que sim. No entanto, é ousadia um homem que nunca será mãe afirmar isso de maneira tão categórica. Lógico que não tenho lugar de fala nesta demanda, mas tenho lugar de escuta. Minha clínica psicológica dimensionada na pluralidade entre crianças em tenra idade até idosos, perfazendo diferentes faixas etárias num mesmo dia de atendimento e tendo mulheres como maioria desta demanda clínica - visto que ainda são delas o legado da busca por ajuda e apoio psicológico, num reflexo do machismo que faz com que a maioria quase que absoluta dos homens fujam de um apoio psicológico em nossa Sociedade.
Sendo assim, vejo-me na condição de pontuar alguns elementos que me levam a confirmar que, sim, é possível pontuar mais prazer do que sofrimento na vivência das mulheres em serem mães. Porém vou descrever aqui alguns passos ou elaborações que uma mulher mãe precisa passar, elaborar e vivenciar, como:
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Psicologia 01/10/2024 14:59:31 890
No artigo que publiquei nestesite no dia 17/09/2024, "Ser mãe é profissão?", faleisobre a atividade de ser mãe enquanto profissão e as dificuldades que emergemdesta posição de mulher mãe. No artigo do dia 23/09/2024, "Quando ser mãe é sofrimento", desenvolvi os aspectos desofrimento que uma mulher vivencia em torno do ser mãe. Agora, vou falar doprazer em ser mãe. E, para esta demanda, trarei tam...
Psicologia 23/09/2024 13:50:21
Neste texto, vou enumerar alguns pontos, dentre milhares de outros possíveis, que entendo como demandas que mulheres carregam na condição de mães e que as colocam em situação de sofrimento no exercício desta função. Seguirei uma sequência didática, lembrando que esta, na vida cotidiana, não diz respeito a uma visão universalizada, mas me parece muito relevante por sua natureza quase comum no exercício da maternidade:
Fórmulas mágicas para despistar um possível sofrimento materno
A partir destes pontos, vale observar que duas “fórmulas mágicas” foram criadas pela Sociedade para despistar estas formas de sofrimento e inibir as mulheres na verbalização coletiva de tais mazelas: A primeira, consiste na disseminação do mito do amor materno incondicional, o encanto de ser mãe independente de problemáticas; A segunda, por sua vez, consiste na noção de que ser mãe é um designo de Deus para prover e manter a família como principal elemento estruturante da criação divina. Desta forma, poucas são as mulheres que verbalizam seus pensamentos e revelam seus sentimentos negativos no processo educacional dos filhos, pois, se assim o fizerem, correm o risco de serem condenadas e vistas como péssimas mães. Consequentemente, ficam reprimindo um sentimento até explodir num sintoma emocional.
O melhor caminho para lidar com os percalços e pesos inerentes ao processo da maternidade dentro da Sociedade é comunicar este sofrimento e estabelecer laços com outras mulheres mães, se encontrando a partir da troca de experiências. Isto leva ao reconhecimento de que ser mãe também é vivenciar sofrimentos, e que o mito do amor materno é uma estratégia machista de sedução para que as mulheres continuem cultivando o orgulho divido em serem mães, e assim correndo o risco de passarem a vida apenas nesta condição e apenas cumprindo um papel designado por uma Sociedade que as enxerga de maneira extremamente restrita.
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Psicologia 23/09/2024 13:50:21 886
Neste texto, vou enumeraralguns pontos, dentremilhares de outros possíveis, que entendo como demandasque mulheres carregam na condição de mães e que as colocam em situação de sofrimento no exercício desta função. Seguireiuma sequência didática,lembrando que esta, na vida cotidiana, não diz respeitoa uma visão universalizada, mas me parecemuito relevante por sua naturezaquase comum no exercício da...
Psicologia 17/09/2024 14:47:34
Na Sociedade pautada no machismo estrutural em que vivemos, o papel de cuidado do filho é delegado para as mulheres. As mães acabam se acumulando na função quase como no exercício de um ofício titular a partir da condição patriarcal imposta nesta estrutura machista na qual a mulher está implicada, levando-a assumir o papel de cuidadora mesmo que não queira, não raramente em decorrência da plena ausência do pai na educação dos filhos. E esta lógica assume uma configuração ainda mais cruel quando tal mulher mãe esta em processo de separação conjugal e há uma ausência mais forte ainda do pai, ex marido. Igualmente agravante é quando, de fato, a mulher vive sozinha com filhos para cuidar. Sendo assim, se torna lógico que ser mãe não é um exercício profissional, porém, na prática, é como se fosse.
Sabemos que, nos atuais parâmetros sociais, a mulher é a que mais tem perdas de sua própria liberdade, também sofrendo mais pelas múltiplas formas de assédio (tanto moral quanto sexual) e agressão (vide o próprio feminicídio). Porém, mesmo diante destas circunstâncias, a mulher precisa delimitar seus diferentes papéis na Sociedade enquanto cidadã, profissional, mãe, esposa etc. Pois, se assim não o fizer, estará incorporando o papel da maternidade como uma obrigação que vai evoluir para uma postura profissional, levando a várias problemáticas na relação com seus filhos, tais quais:
1) Ao ser apenas mãe, vai estender seu trabalho profissional para dentro de casa, continuando num processo de produção e metas a serem atingidas. Assim, vai desconectar-se do sentido materno na relação com seus filhos e criar forte bloqueio nos laços afetivos com os filhos. Além de, ao longo dos anos, construir um estresse de trabalho sem ter um parâmetro diferencial entre ambientes profissional e familiar, também predispondo um possível Transtorno de Burnout. E quem vai perder com tudo isso é a mulher e os próprios filhos, que não conseguirão sentir nesta, uma posição de vínculo afetivo diante desta conduta.
2) Nesta não-delimitação de seus diferentes papéis, também acaba fazendo o jogo de sustentação de ser aquilo que a Sociedade machista quer dela: ser apenas mãe, distanciando cada vez mais o homem pai de sua função paterna. É sustentar uma estrutura que, de fato, a escraviza.
3) Ao ter a visão do filho visto como um trabalho / profissão mãe, criar filhos passa a ser enfadonho, penoso, um labor desgastante. Assim, o cansaço no ser mãe aumenta de forma exponencial, causando, por muitas vezes, aquela sensação de não desejar nem retornar para casa mais.
É sempre bom lembrar que filhos partem, mas a mulher permanece.
Ainda prevalece, nesta posição de ser mãe, a escolha de ser. Mesmo que a maternidade e a criança cheguem sem desejar, assumir a condição de ser mãe vai fazer a diferença no estado emocional de uma mulher. E, se esta escolha estiver clara na ideia de simbolizar mais um elemento da vivência da mulher e não apenas a única vivência, a condição de ser mãe no momento em que é preciso assumir tal posição será de muito prazer, sim. Os desprazeres naturais de toda escolha acontecerão, sem sombra de dúvidas. Mas, ao ser escolhido, se mantido na posição de mãe quando colocada esta condição, fará enorme diferença.
Aí sim, a mulher conseguirá se colocar com afetos e carinhos diante dos filhos, se posicionar em regras e limites, brincar com o filho e usufruir deste brincar, criando o filho para a construção de sua autonomia. Desta maneira, um dia, não será mais a mãe na condição de estrutura para o filho, mas sim uma amiga. Parceira para com um indivíduo que, quando adulto, seguirá seu caminho. Do contrário, se a mulher se desfaz de sua identidade para se colocar apenas na condição de mãe, terá instituído um grande desprazer na relação com os filhos e na não-percepção de si mesma como mulher.
É sempre bom lembrar que filhos partem, mas a mulher permanece. Se, ao longo da trajetória como mãe, a mulher esqueceu de si mesma enquanto mulher, ficará vazio ao filho partir e se terá apenas o tal do “ninho vazio”.
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Psicologia 17/09/2024 14:47:34 880
Na Sociedade pautada no machismo estrutural em que vivemos, o papel decuidado do filho é delegado para as mulheres.As mães acabam se acumulando na função quase comono exercício de um ofício titular apartir da condição patriarcal imposta nesta estrutura machista na qual a mulher está implicada, levando-aassumir o papel de cuidadora mesmo que não queira,não raramente em decorrência da plena ausênci...
Psicologia 09/09/2024 15:14:44
Para falar de Setembro Amarelo, sempre trago elementos voltados para os aspectos da Psicologia e como os profissionais da saúde mental lidam com esta temática. Mas, neste texto em particular, começarei com um testemunho familiar de quem teve pessoas próximas que se suicidaram.
De início, indico o filme “Elena”, dirigido por Petra Costa, também diretora do documentário “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2020. Porém, pouco ouvimos falar deste filme, assim como pouco são os pronunciamentos ou publicações de familiares falando sobre suicídio no seio da família por representar uma demanda de muito sofrimento para os envolvidos. Petra Costa fala do suicídio de sua irmã, fazendo uma narrativa bem esclarecedora sobre a experiência deste tipo de ocorrência em família ao partir de sua experiência pessoal para desenvolver uma perspectiva social e de saúde pública. Vale a pena conferir.
Identifiquei-me muito com este filme por também ter vivenciado experiência similar a partir do suicídio do meu irmão, Edson. Na época, ele tinha 22 anos e eu, 21. Dormíamos no mesmo quarto e tínhamos muitas atividades em conjunto na cidade onde nascemos e morávamos. Fiquei três dias em claro procurando por meu irmão ao lado de nossos respectivos amigos. Edson era de muitos amigos e muito extrovertido, trabalhador e parceiro. Um episódio que assustou a todos na época, pois o perfil dele não condizia em nada com o que se falava do perfil de um suicida potencial. Passaram-se, pelo menos, 20 anos para que minha mãe recuperasse seu emocional e, até hoje, temos dificuldade de falarmos a respeito em nosso núcleo familiar e de amizades.
Logo em seguida, parti para estudar Psicologia após uma forte ascensão como técnico agrícola na época, levando muitos a acreditarem que eu desejava seguir este caminho em função do ocorrido. No entanto, acredito que este episódio referente ao meu irmão só fortaleceu um desejo, pois o fôlego necessário para sair de uma carreira profissional já bem sucedida ainda bem novo no intuito de começar um curso longo e complexo (como em algumas universidades ainda é), de fato só foi possível com tal ocorrência.
Desta maneira, abordar o suicídio discutindo apenas o ato, é ineficaz por não atingir o problema em sua essência.
Ao longo de meus quase 34 anos de exercício profissional, atendi muitos pacientes suicidas em potencial e uma quantidade enorme de pacientes que, se não tratassem a depressão, estariam hoje mortos pelo suicídio. Sabemos que 80% dos que chegam ao suicídio são pessoas que estavam com tal condição. Sendo assim, a razão primária para o Setembro Amarelo, é a prevenção de enfermidades referentes à saúde mental no coletivo e o avanço no tratamento da depressão.
Mas, apesar de presenciarmos avanços no tratamento de depressão, também observo muita especulação medicamentosa a partir do alto índice de pacientes que não conseguem metabolizar a medicação psiquiátrica de maneira a pontuar resultados. Pior ainda: Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), apenas 5,1% dos pacientes com depressão fazem psicoterapia. Diante destes dois dados, vemos muitos pacientes medicados, ou que “estão se tratando”, cometendo suicídio. Os índices de melhoria dos sintomas da depressão, associando medicação psiquiátrica e psicoterapia com psicólogas(os), chegam a mais de 60% de eficácia. Desta maneira, abordar o suicídio discutindo apenas o ato, é ineficaz por não atingir o problema em sua essência. Temos um longo caminho a percorrer nas políticas de saúde pública para a demanda da saúde mental.
Meu índice de pacientes que chegaram a cometer suicídio é zero. Pontuo este dado não para me gabar, mas para evidenciar o quão importante a psicoterapia é para o tratamento da depressão. E, no meu caso em particular, este índice positivo se deve ao fato de que tais casos de risco desenvolveram uma boa psicoterapia, baseada nos instrumentos teóricos e técnicos da Psicanálise. E aqui vale frisar que a maioria das indicações dos médicos psiquiatras é de Terapia Cognitiva Comportamental, por apresentarem maior eficácia em relação a outras modalidades de psicoterapia.
Vale frisar que isso se deve pelo fato de que, em diversos casos, o profissional que manuseia a teoria psicanalítica comete o erro de analisar o paciente com depressão como se este estivesse em uma análise livre, chegando até a negar o suporte medicamentoso psiquiátrico. A meu ver, se, nas pesquisas, o método psicanalítico está com baixa eficácia no tratamento da depressão, é porque os profissionais responsáveis por manusear este método podem o estar fazendo de forma equivocada.
Psicoterapia para todos, ainda é um tabu!
Mas quantos são os equipamentos públicos, tanto na área da Saúde quanto da Educação, que estão oferecendo profissionais de Psicologia para o amplo atendimento da população? Até os planos de saúde estão dificultando este acesso aos seus clientes, delimitando quantidades irrisórias de sessões por ano, mesmo cientes que a maioria dos casos pode levar anos de tratamento. A psicoterapia para o tratamento da depressão tem recomendação mínima de uma sessão semanal (o ideal sendo duas), o que pode perpassar de 40 a 50 sessões no período de um ano. No entanto, muitos planos de saúde delimitam o tratamento a, aproximadamente, 20 sessões. E isto se agrava quando os planos de saúde burocratizam o ressarcimento de valor aos pacientes, sempre exigindo laudos e mais laudos. A partir destas noções, falar seriamente de Setembro Amarelo é falar desta logística social da saúde.
Podemos delimitar aqui algumas orientações para que a prevenção ao suicídio aconteça no seio familiar:
1) Não ter receio de falar sobre o suicídio na família;
2) Observar se, dentre os familiares, há pessoas desenvolvendo a depressão - e podemos fazer esta percepção pelo olhar - mesmo que, ao abordarmos tal pessoa, estejamos errados. Aqui, vale o ditado popular: “Melhor errar pelo excesso de cuidado do que pela falta.”
3) Se atentar à falta de contato afetivo. Prestar atenção em pessoas que, estando no núcleo familiar, ficam à parte de todos sem interação social, isolados em seus quartos e/ou cantinhos e alheios aos movimentos cotidianos da família. É necessário provocar o aproximar-se;
4) Identificar o sofrimento emocional por qualquer motivo que seja e insistir em levar a pessoa a uma entrevista psicológica e/ou avaliação psiquiátrica.
5) Não associar depressão a frescura e/ou ausência de Deus. Como somos um país de maioria da população cristã e de viés conservador, há uma narrativa religiosa ampla de que Deus vai curar todos os males a partir da fé. A partir desta ideia, corre-se o risco de não acontecer o milagre almejado e a depressão da pessoa ir se aprofundando cada vez mais quando o tratamento adequado pode ser uma forma do milagre acontecer.
6) Promover um ambiente familiar com o mínimo de repressão, lembrando que, aqui, repressão é diferente de limites. Fazer do ambiente familiar um local de alegria, de encontros saudáveis e sem opressão, a qual leva ao sofrimento.
7) Evitar brigas e discussões diante dos filhos, principalmente expondo questões pessoais de cada um e também gerando agressividade para com o outro. Pois as crianças e adolescentes captam internamente estes conflitos e passam a desenvolver o processo depressivo em silêncio e em isolamento.
8) Por final, dentre
muitas outras opções que poderia listar aqui, deixo uma que tem sido, de fato, motivo de muita
autoagressão, baixa autoestima e campo aberto para depressão e ansiedade entre crianças e adolescentes, que é o acesso livre e intenso à internet e redes
sociais. Este campo deve ser planejado e
monitorado, com horários definidos de entrada e saída, sempre tendo um adulto próximo. Lógico que, aqui, os
adultos dentro de uma casa, precisam se avaliar se também não estão viciados nas
redes sociais. Cuidado com o o acesso livre e intenso à internet e redes sociais!
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Psicologia 09/09/2024 15:14:44 1132
Para falar de Setembro Amarelo, sempre tragoelementos voltados para os aspectos da Psicologiae como os profissionais da saúde mental lidam com esta temática. Mas, neste texto em particular, começareicom um testemunho familiar de quem teve pessoas próximas que se suicidaram. De início,indico o filme “Elena”, dirigidopor Petra Costa, também diretorado documentário “Democracia emVertigem”, indicado...
Psicologia 26/08/2024 15:14:31
No dia 27 de Agosto de 1962, a profissão de Psicólogo foi regulamentada, sendo anualmente celebrada desde então. Há 62 anos, uma profissão que vem crescendo em número de profissionais e demanda. Graças ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e seus regionais espalhados pelo Brasil, os CRPs (Conselhos Regionais de Psicologia), temos hoje uma profissão atuante em diversas áreas do conhecimento e dos serviços. São várias especialidades que o sistema CFP reconhece e concede titulação por meio de especialidades regulamentadas e/ou provas de títulos.
Tive uma participação muito direta no sistema Conselho de Psicologia entre 2005 a 2013. Chegava de São Paulo, onde atuei no CRP 06 entre 1991 e 1995. Depois, iniciei minhas atuações no estado do Espírito Santo pela cidade de Pinheiros, seguindo com Nova Venécia, São Mateus, Linhares e, enfim, Vitória. Em 2005, participei da comissão de transferência do Conselho de Minas Gerais (CRP 04), ao qual o Estado do Espírito Santo pertencia, para constituir o CRP 16, que passou a representar o estado e para o qual fui eleito nos primeiros dois mandatos. Vi o nascimento da estruturação do Conselho de Psicologia no Espírito Santo, representando o interior do estado enquanto residia em São Mateus.
Minha participação nesta caminhada se deu por meio da Comissão de Comunicação do Conselho, a qual teve uma ação ímpar na conquista por direitos à cidadania e regulamentações do marco referencial da Comunicação no Brasil. Fui eleito em assembleia estadual no Espírito Santo, na Conferência Estadual de Comunicação para representar o estado na Primeira Conferência Nacional de Comunicação durante o Governo do Presidente Lula, em 2009. Tivemos uma vantagem de representatividade que estabeleceu laços incríveis para o Espírito Santo, pois o Jornalista Rodrigo Binot, o qual assessorava a comunicação do CRP 16 na mesma Assembleia Estadual de Comunicação, fora eleito delegado para Brasília pelo Sindicato dos Jornalistas, somando forças com o Professor Dr. Edgard Rebouças, da Faculdade de Comunicação da UFES e também delegado da Conferência Nacional de Comunicação e assessor do CRP 16 na Comissão de Comunicação que eu presidia. Dedico então tempo a esta pauta da Comunicação, participando junto do Sistema CFP nos processos de determinação de Classificação Indicativa para programas de TV e outros meios de comunicação, tornando-a uma normativa, assim como na discussão de limites para Publicidade Infantil, com a qual avançamos para proteger este grupo-alvo.
Outra contribuição possível nestes anos de atuação como conselheiro no CRP 16 foi por meio da participação na Comissão de Educação Inclusiva, na qual pudemos desenvolver grandes eventos anuais concentrados no mês de Abril no intuito de atentar a Sociedade à necessidade de regulamentações de leis para uma escola que caiba todos os mundos. Destas ações, evolui-se para a conquista da lei federal que garante um profissional de Psicologia e de Assistência Social em cada escola pública e particular. Este projeto foi recentemente aprovado como lei no Congresso Nacional e sancionado pelo Governo Federal, mas ainda não regulamentado para ação de fato.
O crescimento contínuo da Psicologia
Atualmente, as pautas de conquistas da Psicologia, principalmente nas demandas públicas, continuam sendo fortalecidas no Conselho Federal, nos posicionando com uma grande diferença dentre muitos outros Conselhos profissionais. Temos, na Psicologia, pautas bem definidas de criação de ações da categoria com foco na construção dum país marcado pelo exercício da Cidadania, pelo foco no Bem Público, qualidade de vida de seus cidadãos e no acesso irrestrito a estes pontos. E, hoje, atuamos com muita força no combate à homofobia, transfobia, feminicídio, racismo, etc. A Psicologia se encontra num movimento de crescimento contínuo, sendo um dos três cursos mais procurados para vestibulares, tendo média do Enem de 800 pontos nas universidades públicas.
Porém, ainda percebemos um grande número de cursos de Psicologia espalhados pelo Brasil que não oferecem uma formação de qualidade. Uma aluna no último período do curso me relatou que escolheu fazer estágio em clínica para crianças e adultos, tendo apenas trinta minutos de supervisão com um profissional para os seis pacientes que atende, com o agravante de tal dinâmica ser realizada em grupo com outros estagiários. Uma defasagem notável. E, infelizmente, o CFP ainda não conquistou o poder de participar das avaliações (e até aberturas) de cursos de Psicologia no Brasil, por ser responsabilidade direta do Ministério da Educação (MEC).
No entanto, as maiores ameaças para a Psicologia regulamentada e levada a sério dentro de uma perspectiva ética, a meu ver, dizem respeito à entrada cada vez maior de agentes na área da saúde mental que não possuem qualificação para atuarem neste território. Me refiro aos psicoterapeutas, psicanalistas, terapeutas holísticos, consteladores familiares, psicopedagogos e demais agentes que estão com clínicas abertas à deriva, sem nenhum processo de fiscalização em suas vendas de intervenções clínicas. Eles podem fazer tudo e de tudo enquanto nós, psicólogos, por sermos regulamentados, somos sempre alvos de fiscalização e penalização.
Neste campo, ainda estamos muito pouco articulados, e, pior ainda, parece-me que não é uma prioridade do sistema CFP. Mas, se entendermos o quanto este tópico - ao qual me refiro como “Psicaretagem” - causa estragos absurdos aos cidadãos que se sujeitam a estas práticas, teríamos que avançar mais no cuidado para que estas não sejam naturalizadas no referencial da Sociedade Brasileira. Sei que todo e qualquer Psicóloga(o) pode causar estragos em seu exercício profissional, e, em especial, afetar a estrutura emocional. Mas, se assim o Psicólogo atuar, descumprindo preceitos éticos da categoria garantidos pelos CRPs, podemos ser denunciados, pois a população tem onde denunciar. E se o estrago é feito por um “psicareta”, a quem o cidadão poderá recorrer? Se o Sistema CFP não entrar nesta demanda com mais determinação, daremos um tiro no pé da categoria.
Vemos o debate das psicoterapias serem reconhecidas como intervenção em saúde emocional, principalmente para as demandas de planos de saúde, os quais reconhecem apenas as atuações dos psicólogos como consulta psicológica, sem autorizar procedimentos psicoterápicos a longo prazo. Mas, aqui, o risco é que esta pauta entre no Congresso Nacional pelo lobby dos evangélicos com uma ótica fundamentalista e de costumes tradicionais para que psicoterapeutas, psicanalistas e ou psicopedagogos não-Psicólogos possam ter o direito de atuarem nos serviços gerais de saúde, tanto pública como privada. Assim, veremos a profissão da Psicologia se dissolver de significações.
Ressalvas entre os que nomino “psicaretas”
Quero aqui apenas fazer uma ressalva da Psicanálise e dos Psicanalistas, com os quais não podemos, de fato, enquadrar no mesmo referencial de “psicaretas” em sua totalidade. Participo de sociedades de psicanálise (ao menos de duas que julgo éticas) focadas no atendimento de pessoas. A diferença destes, em relação àqueles que descrevo como “psicaretas”, é o fato de que não vendem tratamentos emocionais e até cura, como se fossem psicólogos, mas atendem dentro de um processo de formação contínua e numa dimensão muito interna de ciclo analítico como um encontro das partes e conhecimento.
Também uma ressalva aqui às psicopedagogas(os) não Psicólogas(o) que as(o) conheço e faço parceria com interdisciplinar, mas que são Pedagogas(o) graduadas(o) e que não vendem a ideia de serem clínicos ou que vão tratar crianças com disfunções no processo de aprendizado. Mas está cheio de “psicopedagogos” que se enquadram no meu conceito ‘psicaretas’ por venderem aos pais que até são Psicólogas(os).
Este texto de hoje vem com esta a gratidão por termos no Brasil uma profissão da Psicologia com respaldo e regulamentação do CFP, o qual confere garantias ao usuário da saúde emocional e também traz uma pauta de reivindicação para a nossa categoria na defesa contra os “psicaretas” que rondam na ameaça da própria profissão e, ao mesmo tempo, da própria Sociedade.
Comemoro mais este ano da Psicologia enquanto profissão e meus quase 34 anos como psicólogo com a boa notícia de que meu filho, Helder Manacô, ingressou agora no curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) na cidade de Vitória da Conquista. Agora, soma também com meu filho Samuel Iauany, Doutor em Psicologia atuante na cidade de Ribeirão Preto (SP), que hoje faz parte do Grupo de Estudos Psicanálise Contextualizada na qual coordeno.
Que venham mais muitos anos de atuação minha como Psicólogo, ofício ao qual tenho orgulho de pertencer e atuar. E que, a cada ano, possamos fortalecer a Psicologia no Brasil como Ciência e Profissão, protegendo a sociedade dos “psicaretas”.
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Muito honrado em ter acompanhado essa brilhante trajetória ??????
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Psicologia 26/08/2024 15:14:31 889
No dia27 de Agosto de 1962, a profissão de Psicólogo foi regulamentada, sendo anualmente celebrada desde então.Há 62 anos, uma profissãoque vem crescendo em número deprofissionais e demanda. Graças ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e seus regionais espalhados peloBrasil, os CRPs (Conselhos Regionais de Psicologia),temos hoje uma profissão atuante em diversas áreas do conhecimento e dos serv...
Psicologia 21/08/2024 15:14:11
A Humanidade desenvolveu-se ao longo da História a partir da perspectiva de conquistas. Somos marcados pelo legado da aposta, entendendo aqui a ideia desta enquanto arriscar-se em um projeto, lançar-se em um objetivo sem saber se teremos sucesso ou não. É um conceito diferente daquele dos jogos de azar, mas não sem correlação, pois, uma vez que evoluímos ao longo da História a partir de nossa alta potencialidade de assumir riscos, de alguma forma também desenvolvemos um hábito muito atrativo de jogar com a sorte. Mas, aqui, nosso pensamento está direcionado à ideia de que viver é uma aposta.
Se pensarmos a partir da visão do psicanalista Lacan e seu processo de elaboração do que constitui o sujeito do desejo, teremos a busca incessante por uma configuração que nos dê singularidade no processo da subjetividade. Isto é: vamos construindo o nosso núcleo pessoal do existir ao longo de nossa existência - o sujeito desejante – que, em Lacan, vai se dar na configuração de uma constituição que perpassa de “um significante para outro significante”, conceito que vamos encontrar no Seminário 16 de Lacan, intitulado “De um Outro ao outro”, o qual ilustra a construção da estrutura psíquica do indivíduo a partir do encontro com o outro para alcançar uma singularidade. Assim, o encontrar-se com o outro é uma condição primordial na existência humana, que pode dar (ou não) o resultado que se espera na realização dos nossos desejos, configurando uma aposta.
Podemos relacionar esta busca humana com a ideia deste jogo de azar a partir da observação de diferentes ideias de conquistas pessoais, como, por exemplo, conquistas financeiras a partir do desejo do sucesso - que, numa linguagem capitalista, podemos colocar com o conceito pinçado por Karl Marx: “Mais valia” como reflexo da busca incessante do ter. A partir de uma comparação homóloga, Lacan, no Seminário 16, relaciona o “mais” da Mais valia marxista com o que, na psicanálise, ele nomeia “mais-de-fazer", que é a busca pelas realizações dos desejos internos que, incessante e insaciável, sempre nos remete a uma perda, uma falta que nos projeta continuamente à procura de algo mais.
Cultivar expectativas, projetar, se arriscar, é um bom caminho.
Se pararmos para pensar, diante de demandas sociopolíticas e cenários caóticos - que incluem um aumento assustador da fome na maioria das nações, crescimento da violência urbana, guerras (entre nações e civis), catástrofes naturais e previsões sobre o clima nada animadoras para o futuro - poderíamos dizer que as pessoas não desejariam mais terem filhos diante dum futuro tão incerto. Porém, não é o que observamos, visto que os filhos continuam sendo desejados. A cada dia, aumenta a busca pela gravidez, especialmente no caso de mulheres com dificuldade de engravidar. Neste caso, podemos dizer que a aposta pela vida está marcada no desejo de ter filhos para deixar um legado genético e uma continuidade na História. E qual é certeza que alguém que gera um filho tem do sucesso no processo educacional deste? É uma aposta.
Da mesma maneira, fico pensando quão representativos e dependentes de sorte são os casos de empresários que se arriscam em iniciar um negócio em pleno cenário de crise econômica. Uma pulsão que passa pela estrutura psíquica, colocando o empresário diante de uma escolha de risco que representa exatamente esta ideia da aposta.
Das diversas apostas da vida, a única certeza é que viver é uma aposta. Aqueles que vão se configurando em um apego ao real, ao aqui e agora, querendo pontuar o gozo momentâneo buscando sempre prazeres imediatos, se predispõem a não pontuarem prazer algum e caírem em um vazio existencial com uma projeção pessimista de vida. Começam não a apostar, mas recuar, se isolando e provocando a morte psíquica a partir da construção duma mente em sofrimento emocional que vai desembocar em sintomas de transtornos emocionais.
Para uma construção da saúde emocional e prevenção às doenças emocionais, cultivar expectativas, projetar, se arriscar, é um bom caminho. É dar vazão ao apostar na vida, para viver a vida como uma aposta. E quem aposta sempre tem a perspectiva de ganhar e, se perder, retorna ao campo da aposta novamente com o desejo de tentar novamente. Aí sim temos uma mente que pulsa de fazer do sujeito, um sujeito desejante.
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Psicologia 21/08/2024 15:14:11 878
A Humanidade desenvolveu-se ao longo da História a partirda perspectiva de conquistas. Somos marcados pelo legado da aposta, entendendo aqui a ideia desta enquanto arriscar-se em um projeto,lançar-se em um objetivo sem saber se teremos sucessoou não. É um conceitodiferente daquele dos jogos de azar, mas não sem correlação, pois, uma vez que evoluímos ao longo da História apartir de nossa alta po...
Psicologia 13/08/2024 15:47:49
Jogos de aposta são hábitos milenares na Humanidade. Mesmo que, no Brasil, as casas de apostas ainda sejam proibidas, os brasileiros continuam apostando, desde as apostas regulamentadas através do sistema Caixa Econômica aos atuais jogos de apostas esportivas e outros que vão surgindo em plataformas digitais. O proibido torna-se mais apetitoso, atraente. E isso se deve ao fato de que o principal fator que leva as pessoas a apostarem repetidamente é o prazer de se esperar pelo resultado positivo (que dificilmente chega), pois imaginam que um dia vão ganhar e criam um hábito no processo.
Um dos mecanismos que plataformas de apostas e jogos digitais criaram para atrair o público é facilitar o ganho em um primeiro momento, estimulando o iniciante até que o processo se torne altamente catártico, para então, quando a pessoa está já em um nível de dependência do jogo ou da aposta, dificultar novas vitórias. Assim, o dinheiro ganho inicialmente será gasto em novas apostas, levando a instaurar um ciclo vicioso em querer continuar apostando que leva ao endividamento pessoal e coloca a dependência em apostas em pé de comparação com a alcoólica e química.
Como identificar uma pessoa viciada em jogos de aposta
Os principais sintomas para identificar uma pessoa viciada em jogos de aposta são:
1) Sentimento de que vai ganhar sempre;
2) Argumento de que se está gastando pouco dinheiro, mesmo com todos ao redor percebendo um endividamento crescente;
3) Tempo prolongado do dia monitorando o celular para acompanhar a aposta desenvolvida e/ou buscando novas apostas;
4) Superendividamento. Este é um fator que já pude monitorar em clínica por ocasião de um paciente que pediu emprestado para vários amigos e até no próprio banco por conta de uma super aposta que supostamente resolveria sua vida financeira para sempre. Mas, nesta super aposta, o sujeito perdeu tudo e teve que vender o próprio carro para pagar os empréstimos.
5) Quando não se aposta, a ansiedade se manifesta com força, e, ao se propor a romper com o ciclo de dependência de apostas, apresenta sintomas de abstinência parecidos com o de dependência alcoólica e química.
No passado, a dependência em jogos de apostas atingia pessoas acima de 45 anos e, geralmente, estava relacionado com jogos de bingos. Hoje, a dependência tem atingido mais aos jovens por conta do acesso livre às plataformas digitais de apostas.
Mas, diante deste cenário, o que fazer?
No caso de adolescentes e jovens que ainda estão dependentes dos pais, não permitir entrar em jogos onde há necessidade de comprar produtos para potencializar maior poder de competitividade. Esta é uma estratégia para atingir os adolescentes (e até crianças) em que os jogos liberam créditos diante dos acertos, posteriormente limitando o avanço do jogador se este não comprar mais recursos para continuar. Hoje, estes mecanismos de disputa online entre vários competidores leva aqueles que não investem a ficar para trás na competição, provocando sentimentos de derrota e não-pertencimento ao grupo.
Limitar a navegação para crianças e adolescentes de canais YouTube nos quais há especialistas “ensinando” suas estratégias de ganhos nestes jogos. Nestes casos, o especialista vai apresentando os resultados de sucesso financeiro decorrente do jogar, e este movimento cria uma alta expectativa na criança e no adolescente em querer se tornar um jogador de ponta. Desta forma, monitorar e limitar o tempo de uso pode colaborar para a não-fixação da necessidade.
No caso de adultos, é importante definir valor fixo a ser gasto no mês para jogos de apostas; ou estabelecer critérios pessoais de só entrar em jogos que não tenham a necessidade de compras de produtos para fortalecimento do jogo e possível potencial para vitória; assim como definir tempo de uso de tais jogos.
Em caso de não conseguir criar critérios e observar que os sintomas de dependência estão evoluindo, comunicar a pessoas próximas para pedir auxílio no controle e, ao mesmo tempo, procurar por um tratamento para esta dependência.
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Psicologia 13/08/2024 15:47:49 1106
Jogos de aposta são hábitos milenares na Humanidade. Mesmo que, noBrasil, as casas de apostasainda sejam proibidas, os brasileiros continuamapostando, desde as apostas regulamentadas através do sistemaCaixa Econômica aos atuais jogos de apostasesportivas e outros que vão surgindo em plataformas digitais. O proibido torna-se mais apetitoso, atraente. E issose deve ao fato de que o principal fator ...
Psicologia 08/08/2024 15:15:59
Tema gerador para formação com pais e comunidade escolar da Escola Comunitária Rural Municipal São João Bosco - Jaguaré / Espírito Santo, no dia 10/08/2024.
Os principais impactos das redes sociais na adolescência são:
1. Perda de habilidades manuais, por ser uma atividade parada;
2. Diminuição da capacidade cognitiva, por não estabelecer elaboração de conhecimentos;
3. Isolamento social;
4. Paralisia psicomotora, por ser uma atividade que requer pouca ação e acarreta em consequente acúmulo de energia;
5. Auto-agressividade como forma de descarregar a energia acumulada, para sentir que esta vai para algum lugar;
6. Apego a notícias falsas e acentuada busca no campo de fofocas e notícias negativas;
7. Tendência a dependência de jogos eletrônicos, por estes serem muito estimuladores a cumprimento de metas;
8. Possível desenvolvimento de Depressão, Ansiedade e/ou tendências suicidas.
9. Baixa autoestima.
10. Baixa perspectiva para o amanhã.
A pergunta que surge então é: Por quê o adolescente é tão vulnerável às redes sociais e ao apego aos eletrônicos e à internet?
E a resposta é relativamente clara: Por ser uma fase de transição e busca por identificações pessoais em meio a muitas incertezas e na qual também se tende ao apego às imagens de ídolos. A etapa de vida que, no âmbito comportamental, o indivíduo mais parece dono do seu saber, mas na verdade se revela muito inseguro, muitas vezes se utilizando de posições radicais e ataques para esconder a própria fragilidade.
As 3 fases da adolescência
Torna-se mais fácil entender a adolescência sistematizando-a em 3 etapas distintas:
1. Pré adolescência - de 11 a 13 anos
2. Adolescência – de 14 a 17 anos
3. Adolescência adulta – de 17 a 22 anos
No ensino fundamental 2, que atinge do sexto ao nono ano, observa-se a pré-adolescência e a adolescência normal, que são fases de muitas instabilidades. Na pré-adolescência, os lutos: Perda do corpo infantil; Perda dos pais de criança; Perda da identidade de criança e surgimento das alterações hormonais. Na adolescência propriamente dita, os conflitos decorrentes de um “falso self”, que dá a ideia de que já podem ser donos de si mesmos, o que os deixa em risco e vulneráveis.
Assim, aos adultos, pais e educadores, cabe estar atentos, acolhedores e participativos, pois na fase em que mais é preciso presença, a tendência dos responsáveis é tratar adolescentes como se estes já pudessem seguir sozinhos e já não precisassem tanto de suporte. Desta forma, o campo para a dependência eletrônica e a tendência aos riscos e impactos das redes sociais na adolescência aumenta.
Quem vitimizará o adolescente instável? Observe que os maiores abusos a vulneráveis acontecem na adolescência, seja pelo assédio dos traficantes, assédio sexual e até mesmo aquele vindo do comércio. O que não é diferente para as redes sociais e todas as plataformas de internet.
O que fazer?
Desta forma, cabe aos pais algumas posturas em relação ao cuidado com adolescentes:
1. Estarem próximos e participativos;
2. Se envolverem com o mundo deles;
3. Estarem atualizados nas redes sociais e participarem do acesso com os filhos;
4. Controlar e monitorar o que fazem nas redes;
5. Colocar limite de tempo para uso na semana e aos finais de semana;
6. Inserir os adolescentes nas tarefas da casa e na atividade profissional dos pais;
7. Estarem com projetos pessoais de vida ativos;
Aos pais, cabe também a capacidade de servir de espelho aos filhos, podendo, sim, persuadir pelo exemplo. Os pais precisam mostrar aos filhos adolescentes que eles possuem projetos pessoais e, assim, também precisam manusear as redes sociais e as tecnologias. Se necessário, vale pedir aos filhos para ensinarem o manuseio destas.
O que vemos atualmente são pais que abandonam seus filhos no cotidiano e os deixam à mercê da escravidão digital, especialmente das redes sociais. Em contraposição, pais que amam os filhos, cuidam. Zelam, orientam, colocam limites e estão juntos na caminhada. Assim, as ameaças serão atenuadas e a tecnologia e as redes sociais estarão a serviço e a favor do processo educacional.
Obs.: Este texto foi utilizado concomitante à apresentação da palestra, como também apresentado em vídeo, disponível no meu canal do YouTube Abarca Psicólogo e no formato de banners com sequência da mesma temática, postados no Instagram @abarcapsicologo. Com o objetivo de colaborar com os pais na percepção do potencial que a tecnologia e as redes sociais têm a favor do processo de educação dos filhos.
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Psicologia 08/08/2024 15:15:59 877
Tema gerador para formação com pais e comunidade escolar daEscola Comunitária Rural MunicipalSão João Bosco - Jaguaré / Espírito Santo, no dia 10/08/2024. Os principais impactos das redes sociais na adolescência são: 1. Perda de habilidades manuais, por ser uma atividadeparada;2. Diminuição da capacidade cognitiva, por não estabelecer elaboração de conhecimentos;3. Isolamento social;4. Paralisia ...
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