Psicopedagogia 07/04/2025 17:29:14
Com quem ficam as crianças quando não estão na escola? No modelo tradicional, em que a educação infantil ocorre apenas em meio período, estas costumavam ficar com parentes, babás, empregadas domésticas ou até mesmo famílias amigas formadas por alguém que não trabalhasse fora de casa.
A mudança no cuidado infantil ao longo do tempo
Hoje, a realidade é outra. A grande maioria das famílias não conta mais com parentes adultos em casa, pois a maioria trabalha. Ter uma babá ou empregada doméstica tornou-se um recurso de luxo para quem pode pagar. Mesmo para aqueles que detém condições financeiras, cresce a dificuldade de confiar em funcionários do lar, visto que esses profissionais muitas vezes não possuem qualificação ou vocação para cuidar de crianças. Em um tempo em que brincar na rua já é quase uma história do passado, as crianças ficam confinadas em casa, entretidas por uma "babá eletrônica" na palma da mão.
Diante desse cenário que vem se configurando ao longo dos anos, a escola de período integral tornou-se uma necessidade tanto para oferecer suporte às famílias, cujos pais precisam trabalhar, quanto para garantir estímulos educacionais. As crianças matriculadas em escolas de tempo integral são expostas a uma grade curricular voltada para o estímulo educacional, a socialização e o desenvolvimento de múltiplas habilidades.
Essa necessidade se aplica a todas as crianças, tanto as que frequentam a rede pública de ensino quanto as que estudam em escolas particulares. Mesmo em famílias estruturadas que oferecem atividades extracurriculares fora do horário escolar, ainda sobra muito tempo ocioso para as crianças, as quais acabam sem companhia para brincar e interagir. Como resultado, passam horas presas a uma tela, hipnotizadas por conteúdos sedutores e perdendo potencialidades cognitivas devido à falta de experiências práticas e vivências.
Alguns municípios e estados já começaram a introduzir escolas de período integral com boa formatação pedagógica, incluindo aulas, monitorias, lazer, esportes e atividades de produção artístico-cultural. Tenho indicado a algumas famílias, inclusive àquelas cujos filhos estudam em escolas particulares tradicionais, que considerem matriculá-los em escolas públicas de período integral. Os resultados têm sido positivos na formação das crianças. Além de ficarem afastadas das telas por mais tempo, estão protegidas em uma instituição de ensino enquanto seus familiares podem se dedicar ao trabalho para melhorar a estrutura econômica da família.
Desafios e perspectivas do modelo integral
Algumas escolas particulares já estão se estruturando para oferecer o sistema integral, mas os altos custos dificultam a manutenção deste modelo. Em alguns estados, professores e profissionais da educação têm sido melhor remunerados no sistema público do que nas escolas particulares, justamente porque a educação integral é um processo caro e reduz a margem de lucro dos comerciantes da educação.
Para que a escola integral cumpra, de fato, seus objetivos educacionais, é essencial que, ao longo do dia, as crianças participem de atividades tanto em sala de aula quanto em espaços esportivos e de produção artística e cultural. Também é importante que contem com momentos de monitoria para realizarem suas tarefas escolares na própria instituição. O ideal é que as disciplinas sejam ministradas de forma interativa, permitindo que as aulas sejam mais que uma simples transmissão de conteúdo, tornando-se experiências semelhantes a laboratórios de aprendizado.
No estado do Espírito Santo, onde resido, observei que as escolas de período integral são estruturadas dessa forma e têm entregado bons resultados. Além disso, os professores são melhor remunerados. No entanto, esse modelo tem sido mais aplicado ao ensino fundamental II e ao ensino médio. Já nas escolas públicas municipais, que atendem crianças do ensino fundamental I, o processo ainda é muito amador e sujeito às intervenções de gestões locais frequentemente influenciadas por interesses políticos e financeiros.
Nas escolas particulares, as de regime integral atendem um público muito reduzido, majoritariamente da classe B alta. Aos poucos, observa-se um aumento na oferta de escolas integrais e maior conscientização das famílias sobre os benefícios deste modelo. As crianças ficam melhor assistidas na escola que em casa, sem estímulo educacional adequado.
Ainda persiste a ideia de que crianças pequenas devem permanecer o maior tempo possível perto das mães. Contudo, mesmo para quem tem essa opção, recomendo considerar a escola integral para os bem pequenininhos, pois a Sociedade já não enxerga as mulheres como únicas responsáveis pelo bem-estar dos filhos em tempo integral.
Muitas mães que optam por ficar em casa acabam sobrecarregadas e se sentindo limitadas nessa posição. É verdade que algumas famílias ainda conseguem estabelecer uma rede de apoio, mas a sociedade tecnológica exige cada vez mais conhecimento e habilidades para cuidar de crianças 24 horas por dia. No passado, muitas mães abriram mão de trabalhar para cuidar dos filhos, mas, naquela época, havia o suporte de vizinhos e a rua ainda era um espaço seguro para as crianças brincarem. Esse cenário já não condiz com a realidade da maioria das cidades brasileiras, inclusive as de menor porte.
Que sejam bem-vindas as escolas de período integral! Que o Brasil acelere esse processo na rede pública de ensino. No médio prazo, os benefícios serão visíveis na formação estrutural das crianças e nos índices de desempenho educacional no cenário nacional.
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Psicopedagogia 07/04/2025 17:29:14 34
Com quem ficam as crianças quando não estão na escola? No modelotradicional, em que a educação infantil ocorre apenas em meio período,estas costumavam ficar com parentes,babás, empregadas domésticas ou até mesmo famílias amigas formadas poralguém que não trabalhasse fora de casa. A mudança no cuidado infantil ao longo do tempo Hoje, a realidade é outra. A grande maioria das famílias não conta ma...
Psicopedagogia 15/10/2024 17:40:18
O processo de proibir celular nas escolas já vem sendo adotado por vários países, como Holanda, Dinamarca, Finlândia, Espanha, Suíça, Itália, Portugal e México. Esta decisão é decorrente de diversos estudos longitudinais que apontaram que a presença do celular em sala de aula, e até mesmo com o aluno na escola, trouxe perdas do potencial de concentração e aprendizado. Países que, inclusive, utilizaram o celular num primeiro momento dentro da dinâmica do processo educacional, concluíram que os resultados não foram satisfatórios.
Em 2023, um relatório da UNESCO (setor da ONU focado na Educação) apontou que a simples aproximação dos alunos com o celular já predispunha a distração do processo de aprendizado, provocando impactos negativos, como indicado no PISA (Relatório de avaliação internacional de estudantes) daquele ano. A partir deste relatório, a UNESCO indicou aos países a retirada dos celulares nas escolas junto da revisão de eletrônicos e internet no processo educacional.
Após o resultado de tal estudo, a Prefeitura do Rio de Janeiro (então sob a gestão de Paes) realizou, por meio da Secretaria Municipal de Educação, uma consulta pública entre as famílias usuárias do sistema municipal, chegando ao seguinte resultado: 83% apoiaram a proibição do celular, 11% apoiaram parcialmente e 6% foram contra. Tais dados levaram o município a proibir o celular nas escolas municipais, sendo a primeira iniciativa do tipo no Brasil.
Atualmente, o Ministério da Educação, sob a gestão do Ministro Camilo Santana, está com a elaboração de um projeto de lei para proibir o uso do celular nas escolas públicas e privadas do Brasil em andamento. Como não temos uma regulamentação federal sobre esta demanda, um projeto de lei específico sobre este tema vai colaborar para o respaldo jurídico das instituições de ensino em proibir tais aparelhos nas escolas, especialmente diante do fato de que há famílias que defendem o celular nas escolas como forma de ter acesso aos filhos por alguma eventualidade ou intercorrência. Desta forma, a ausência de critérios definidos em lei federal coloca o corpo pedagógico, por muitas vezes, em rota de colisão com as famílias dos alunos, resultando até em ocorrências de ameaças de processo judicial para tal liberação.
Motivos do porque sou a favor da proibição
Eu sou defensor da proibição do celular nas escolas, em todos os ambientes e situações. Desde salas de aula até espaços de convívio extraclasse. E, aqui, trago alguns argumentos para defender esta ideia:
1) Com o celular na bolsa ou bolso, mesmo que esteja desligado, o aluno fica ligado ao desejo de usar o aparelho, pois está o tempo todo conectado fora do ambiente escolar. Ao chegar na escola, mesmo que tenha as regras de proibição, a dependência criada pelo uso intenso no cotidiano faz deslocar tal para o manuseio do celular. Se esta pulsão acontece até com adultos, imagine com crianças e adolescentes, os quais têm forte tendência a criar dependências de hábitos prazerosos por ainda não estarem plenamente maduros para escolhas mais criteriosas e que requerem autodisciplina.
2) Mesmo que não se use em sala de aula, as crianças e adolescentes tendem a se fixar no celular e esquecem de interagirem com os colegas quando estão em atividades abertas na escola e/ou intervalos. Isto tem trazido muitos problemas até mesmo nas empresas, onde ninguém mais se comunica com os colegas de trabalho nos intervalos por estarem ligados ao celular.
3) Imaginar que crianças e adolescentes já estão aptos a entenderem e seguirem uma regra livremente, por plena consciência, é desconhecer o desenvolvimento psicológico destas duas faixas etárias. A autonomia para a livre escolha de procedimentos e hábitos só será possível plenamente na vida adulta. Mesmo assim, é preciso identificar no meio adulto quem, de fato, atingiu um nível de maturidade plena para ser autônomo nas suas ações.
4) Lembrar que a inclusão do celular no sistema de ensino já foi testada e os resultados não foram satisfatórios. Precisamos entender que o processo de aprendizado se dá pela entrada nas teorias e na percepção dos conhecimentos na vivência prática do que foi ensinado. Como temos uma escola ainda muito restritiva e conteudista na forma de desenvolver o processo de aprendizado, cria-se nos alunos um forte processo de desestímulo ao aprendizado. E, ao recorrerem à internet, vão encontrar mil tutoriais de que são dinâmicos e quase fazem pensar que o professor não serve para nada. Assim, a presença do aparelho vai acentuar o desinteresse por aquilo que o professor está propondo e distanciando o aluno desta relação professor/aluno para o aprendizado.
Toda esta temática tem emergido a simples e clara noção de que o aprendizado se dá por vias muito simples e por interatividade dinâmica com o que se está ensinando e aprendendo. E sem dúvida que, se esta proposta do Governo Federal for aprovada no Congresso Nacional, muitos professores terão que rever a forma de se posicionarem na transmissão de conteúdo por não estarem com forte dinâmica no processo educacional e acabarem se escorando no celular como um falso recurso de aprendizado. Da mesma forma, as escolas precisarão se reinventar para melhor dinâmica de conteúdos em sala de aula.
Mas então as escolas não poderão usar a tecnologia de informação com os alunos no processo educacional?
Uma coisa é o celular, outra coisa é a tecnologia para o aprendizado. Para isso, as escolas precisam ter seus laboratórios de pesquisa estruturados e alunos beneficiados com equipamentos para tal finalidade. Mas é diferente de um celular, que representa mais um órgão do corpo humano na atualidade e coloca o sujeito conectado com o mundo na palma de sua mão. Tendo na escola um espaço de manuseio de interfaces de conexão, configura-se em uma outra perspectiva de processo de interação com a tecnologia. É utilizar a Tecnologia a serviço do aprendizado, não tornar o aprendizado um escravo da Tecnologia.
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Psicopedagogia 15/10/2024 17:40:18 1230
O processo de proibir celularnas escolas já vem sendoadotado por vários países, como Holanda, Dinamarca, Finlândia, Espanha, Suíça, Itália, Portugale México. Esta decisão é decorrente de diversos estudoslongitudinais que apontaram que a presençado celular em sala de aula, e até mesmo com o aluno naescola, trouxe perdas do potencial de concentração e aprendizado. Países que, inclusive, utilizaram ...
Psicopedagogia 05/03/2024 15:13:13
Tenho dito que ser pai e mãe, na atualidade, não tem sido tarefa das mais fáceis. Com a ampliação do acesso às redes sociais pelo avanço tecnológico e pela democratização do acesso à internet, que encontramos inclusive nos espaços públicos, vemos os pais se descabelando em torno desta realidade emergente. Há uma infinidade de possibilidades para navegar entre aplicativos, jogos, filmes e diversas redes. Com um dispositivo na palma da mão, crianças e adolescentes podem estar no mundo em questão de segundos. E o pior: As dificuldades dos pais em colocar limites no uso de equipamentos eletrônicos que podem acessar as redes sociais reflete também uma dificuldade também do próprio comportamento destes em se disciplinar nas redes. Os adultos estão mais dependentes de tais dispositivos do que as próprias crianças.
Sabemos que, com a expansão da internet, o acesso virtualmente infinito às diferentes formas de navegar em busca de qualquer coisa é um caminho sem volta. Impedir radicalmente tal uso não vai acrescentar em nada na educação dos filhos. Porém, liberar completamente só vai trazer consequências desastrosas na formação de crianças e adolescentes, como perda de potencial cognitivo, isolamento social e depressão. E esta é uma realidade que os professores em sala de aula já estão observando.
Desta maneira, surge a grande questão: Como controlar?
A dica direta e simples que apresento aqui: Monitorar o tempo de uso. Definir o horário de entrada e saída da internet. De preferência, no máximo duas horas diárias, podendo dividir este tempo entre manhã e à noite. Porém, é preciso desligar todos os eletrônicos das crianças e adolescentes, pelo menos, uma hora antes de dormir. Assim, como o cérebro leva aproximadamente uma hora para entrar em pleno funcionamento para atividades cognitivas logo pela manhã, também leva quase uma hora para desacelerar suficientemente antes do repouso. Do contrário, se a criança ou adolescente vai dormir logo em seguida de desligar os eletrônicos, já começa a entrar na disfunção do sono por apresentar dificuldade para adormecer, visto que o cérebro está em plena atividade - E aqui vale ressaltar que este princípio biológico também se aplica aos adultos. Sendo assim, é indicado que toda a família se desconecte, pelo menos, uma hora antes de dormir.
Se o processo de colocar limites for colocado de forma criteriosa pelo tempo de uso, desenvolvendo uma interação com as crianças e adolescentes sobre a importância deste controle e fixando um combinado com frequência do acordo, preservando tal ritmo também aos finais de semana e feriados, a chance de funcionar é muito grande. Mas, para isso, os pais também precisam rever seu uso pessoal de tais dispositivos e hábitos de acesso às redes que navegam para também aderirem a esta regra, dando o exemplo para todos na família. Do contrário, se os pais não procederem de acordo, nenhuma regra estabelecida vingará.
Pelo tempo de uso, os argumentos múltiplos que as crianças e adolescentes são muito capazes de criar, se esgotam no relógio, é simples.
Mas você deve estar pensando, como fazer isso se outras famílias não fazem e os amigos dos filhos todos estão liberados? Não tem problema, os filhos seguirão as normas que vocês estipularam como pais na família. E, vale lembrar que, se há um casal que determina regras em conjunto, ambos devem estar unidos na manutenção das mesmas. Do contrário, as crianças e adolescentes terão a percepção da fragilidade do casal neste âmbito e começarão a jogar contra as regras.
O que você deseja para o seu filho?
Definir o controle sobre o navegar na internet, nas diferentes possibilidades de serviços que hoje são disponibilizados, é uma questão de escolha sobre o que os pais pretendem e desejam para seus filhos. Viver no hoje, mas dentro de uma perspectiva futura traçada pelos pais. E esta possibilidade só será possível enquanto os filhos ainda estão sob a tutela dos pais, pois, depois de adultos, estes já não exercem muitos poderes sobre seus filhos.
Se esta atitude de colocar limites, estabelecendo regras de uso no processo de navegação pela internet, vai trazer resultados favoráveis ou não, de fato não podemos prever. No entanto, é notório o quanto crianças e adolescentes provenientes de famílias com critérios claros em relação ao uso das redes estão mais conectados com as buscas do conhecimento e mais focados em valorizar os estudos e o projeto de futuro, também se mostrando mais conectados com as atividades inerentes da idade em que se encontram.
A partir dessa visão, lhes desejo boas escolhas, pais. Pois não existe o certo e o errado, mas sim a decisão de como proceder. E, quem escolhe sabendo o por que escolheu e não segue o que outros estão escolhendo para eles, deixa de ser massa de manobra.
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Psicopedagogia 05/03/2024 15:13:13 877
Tenho dito que ser pai e mãe, naatualidade, não tem sido tarefa das mais fáceis. Com a ampliaçãodo acesso às redes sociaispelo avanço tecnológico e pela democratização do acesso à internet, que encontramos inclusivenos espaços públicos, vemos os pais se descabelando emtorno desta realidade emergente. Há umainfinidade de possibilidades para navegar entre aplicativos, jogos, filmes e diversas redes...
Psicopedagogia 11/08/2022 15:12:58
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Ótima reflexão! Parabéns! Precisamos nos desconstruir! |
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Reflexão excelente!
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Perefeito, a estrutura machista, eurocentrica e religiosa conservadora cria essa sociedade atual e dividida pelo ódio. Cultura e educação será sempre a única saída para uma sociedade inclusiva.
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Excelente
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Psicopedagogia 11/08/2022 15:12:58 1094
Para pensar o Dia dos Pais, quero refletirsobre um olhar diferenciado da concepção de paternidade que asociedade machista foi configurando ao longo de nossa história embranquecida eeuropeizada, que sempre passou a ideia de que pais ensinam e filhos aprendemcom os pais. Contexto histórico que desencadeou essa estrutura de pai e comando O tempo é para vermos este processo de relação dos...
Psicopedagogia 27/05/2021 19:43:53
Vou abordar este tema a partir de um texto de Winnicott de 1968 que foi catalogado pela editora Martins Fontes, em 2011, no livro “Tudo começa em casa”[i].
A relevância deste tema para pais e educadores está no conflito existente no ato de ensinar no sistema educacional e na dificuldade dos pais de acompanharem o desenvolvimento escolar dos filhos. Para os pais, este é um campo pouco dominável - por não serem profissionais da educação - e por sua vez, para os educadores, exige um domínio da psicologia do desenvolvimento afetivo das crianças, que na sua quase totalidade não foram preparados para tal.
Winnicott nos aborda “Acho que é bem conhecida a importância vital da relação professor-aluno. É assim que os psiquiatras começam, quando se referem a problemas de ensino. A não- confiabilidade do professor faz com que quase toda criança se desintegre. Quando uma criança relata sua dificuldade em fazer somas ( ou em História, ou em Inglês), a primeira coisa em que se pensa é: Talvez este professor não sirva. Não poucas crianças tiveram obstruído o desenvolvimento de sua aprendizagem em função do sarcasmo do professor.” ( WINNICOTT, 1968, 2011- p. 50).
Eu mesmo passei por mãos de professores sarcásticos que me atribuíam chacotas pela manifestação de meus limites na educação. Primeiro quando cheguei para estudar a primeira série em uma grande escola estadual na cidade de São José do Rio Pardo - SP, onde estudei até a oitava série. Nesta cena, estava em uma longa fila para esperar a chegada da professora e havia três filas de quase 40 crianças. Perguntei a uma senhora super estressada e brava, a pedagoga, sobre o porquê estava na fila C. Ela me disse que eu era fraquinho, por isso estava ali. Nossa, eles não me conheciam, como ela poderia saber se eu era fraquinho? E olha que isso aconteceu em uma época em que a educação era bem melhor que a de hoje.
Outro episódio foi com uma professora de português, já no ensino fundamental dois, no sexto ano. Ela usava uma técnica de cada aluno ler em voz alta um texto coletivo, e no primeiro erro de leitura ela batia um lápis sobre a mesa dela e sabíamos que era para parar e o de trás continuar a leitura. Sempre na minha vez, eu só de abrir a boca ela já batia o seu lápis na mesa, e ainda falava: “desencalha seu gaguinho...”. Lógico que sempre quis “enforcar” aquela professora de português.
Winnicott nos alerta “Acho que vocês não deveriam esperar que uma criança que não alcançou o estado de unidade possa apreciar pedaços. Eles são aterradores para a criança e representam o caos. E o que vocês podem fazer? Em tais casos deixem de lado a aritmética e tentem propiciar um ambiente estável, que possibilite (ainda que tardia e tediosamente) que algum grau de integração pessoal se instale na criança imatura.” (WINNICOTT, 1968, 2011- p. 48). Aqui Winnicott traz uma clara indicação que, ao travar na criança o processo de aprendizado de uma disciplina específica, é melhor recuar e dar vazão a relação de acolhida afetiva e aguardar o tempo da criança para, assim, poder introduzir, conforme o seu limite, o conteúdo de forma lúdica, acolhendo o jeito de ser dela. Isto requer, sim, uma habilidade de vínculo afetivo que vai para além do saber ensinar conteúdos, outra habilidade que requer do professor é a paciência, para respeitar o ritmo das crianças. Mas esta posição também serve aos pais, que devem saber dos limites de seus filhos, acolher este limite sem comparar os diferentes ritmos de aprendizado de cada filho e, assim, estimular positivamente. Hoje, devo meu potencial de escrever à minha mãe Aurora, que com paciência me ajudava a ler os textos da escola, mesmo que eu levasse uma vida inteira.
Para concluir esta breve reflexão, segue uma quase síntese de Winnicott sobre este tema “A palavra-chave no que tange ao lado ambiental (corresponde à palavra “dependência”) é “confiabilidade” – confiabilidade humana e não mecânica.” (WINNICOTT, 1968, 2011 – p. 49). Educação não é conteúdo em si sistematizado. É vínculo afetivo que, de forma lúdica, pode levar as crianças ao desejo de aprender. Escolas em que as crianças ficam na expectativa de chegar a hora de irem estudar e que ao término das aulas elas adoram ficar na escola, é sinal de que lá é um ambiente que atrai a criança para ali estar. Já quando apresenta resistência em ir para a escola e ao se falar de algum professor entra em pânico, aí tem um sintoma de resistência ao processo educacional, que deve ser verificado.
Felizmente, para ser professor de crianças é preciso um potencial de interação afetiva muito definido e uma habilidade para introduzir conceitos que nunca foram vistos pela criança. Por este motivo que escola boa não é aquela que tem mais recursos, mas sim aquela que tem profissionais com conteúdo, conhecedores da psicologia do desenvolvimento infantil e capazes de estabelecer vínculo afetivo com os alunos.
Aos pais, quando a criança adentra no processo de aprendizado sistematizado, é necessário ter um ambiente familiar que proporcione à criança o brincar livremente e também a capacidade de acompanhar o processo educacional dos filhos na escola, sendo parceiros e amigos da “comunidade escolar”. É indicado que nunca ataquem os professores na frente do filho e quando precisarem ver algum procedimento na escola, que façam diretamente junto ao corpo pedagógico.
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Psicopedagogia 27/05/2021 19:43:53 969
Vou abordar este tema a partir de um texto deWinnicott de 1968 que foi catalogado pela editora Martins Fontes, em 2011, nolivro “Tudo começa em casa”[i]. A relevância deste tema para pais e educadores estáno conflito existente no ato de ensinar no sistema educacional e na dificuldadedos pais de acompanharem o desenvolvimento escolar dos filhos. Para os pais, esteé um campo pouco dominável - por...
Psicopedagogia 11/02/2020 18:24:54
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Psicopedagogia 11/02/2020 18:24:54 870
Início de ano letivo é sempre a mesma “ladainha”, compra de material escolar, novas mochilas e altas expectativas para o ano educacional que se inicia. Escolas prometem de tudo no ramo educacional, desde as particulares, pela disputa na concorrência de quem tem melhores índices no ENEM, até as públicas, para dar publicidade aos administradores públicos de quem faz a melhor educação pública neste...
Psicopedagogia 19/06/2019 18:21:58
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Psicopedagogia 19/06/2019 18:21:58 891
No processo educacional dos filhos os pais precisam fazer uma pergunta, de fundamento existencial, que norteará toda a forma de educar. O que espero do meu filho quando ele crescer? Esta pergunta pode parecer muito distante da realidade quando os pais ainda se encontram com o filho no ventre materno, ou nos primeiros anos de vida da criança. Mas pode ser um elemento já muito próximo da realidad...
Psicopedagogia 16/05/2019 18:20:01
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Psicopedagogia 16/05/2019 18:20:01 985
"Meu filho ainda não sabe ler, e agora?" foi a pergunta que uma mãe me fez, recentemente, em uma palestra que ministrei para pais acerca da educação dos filhos. É uma preocupação de muitos pais, porém, devemos nos atentar para saber se é uma preocupação antecipada ou se de fato já é um problema do processo de aprendizado da criança. Quando se preocupar com o nível de leitura de um fi...
Psicopedagogia 12/04/2019 01:52:07
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Psicopedagogia 12/04/2019 01:52:07 1104
Auto agressão, por quê? Tenho observado, entre pais e professores, o aumento do número de queixas em relação a prática de auto agressão entre seus filhos e alunos, principalmente com lâmina de barbear (Gillette) nos braços. Geralmente são relatos de jovens que riscam o antebraço pela parte interna com cortes superficiais. Esta demanda já começa a trazer muita preocupação nas escolas ...
Psicopedagogia 29/03/2019 20:52:40
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Psicopedagogia 29/03/2019 20:52:40 879
O massacre ocorrido na Escola Estadual Professor Raul Brasil na cidade de Suzano-SP no dia 13 de março de 2019, foi um bom prato para a imprensa sensacionalista que sobrevive de tragédias para atrair telespectadores e leitores. Infelizmente estes fatos são explorados de forma desumana e sem respeito às vítimas e seus familiares, à comunidade local e até ao município. O que mais se falou e mais se...
Psicopedagogia 19/03/2019 18:00:02
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Psicopedagogia 19/03/2019 18:00:02 917
Este é um grande dilema dos pais diante das queixas educacionais que a escola faz dos filhos, principalmente quando a criança apresenta muita dificuldade para aprender. Muitas crianças chegam até mim com diagnósticos definidos, mas sem intervenções condizentes com o diagnóstico. Por exemplo, uma criança tida com Déficit de atenção e medicada pelo Neurologista, sem ter as especificidades da caus...
Psicopedagogia 12/02/2019 16:50:40
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Psicopedagogia 12/02/2019 16:50:40 885
As férias passaram e com elas muitos hábitos ficaram cravados no modo de viver das crianças e adolescentes. O principal deles, de brincar sem se preocupar em estudar, ler ou ir à escola. Outro hábito terrivelmente difícil de fazer voltar ao normal nesse tempo de transição de férias/ início do ano letivo é o de dormir tarde e também de estar preso aos aparelhos eletrônicos, redes, jogos, e...
Psicopedagogia 12/12/2018 16:39:27
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Psicopedagogia 12/12/2018 16:39:27 897
“O ano termina e meu filho não aprendeu a ler, nem escrever!”, este parece ser o drama de muitos pais com filhos nas primeiras séries do ensino fundamental I. O processo de alfabetização a cada ano que passa dificulta a vida das crianças por vários motivos, aqui pontuo alguns dos que venho observando ao longo dos anos nos atendimentos clínicos para crianças com problemas de aprendizado, como:&nb...
Psicopedagogia 11/07/2018 19:22:12
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Psicopedagogia 11/07/2018 19:22:12 871
O projeto “Férias no fundo do mar” coordenado pelo projeto Tamar na cidade de Vitoria-ES é uma excelente opção de lazer para a criançada e seus familiares nestas férias de Julho (2018). Com muita atração artística/cultural, oficinas de artesanato, jogos educativos e brincadeiras dirigidas, as crianças poderão passar um bom tempo se divertindo e ao mesmo tempo forjando consciência. Eu tenh...
Psicopedagogia 12/04/2018 17:25:59
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Psicopedagogia 12/04/2018 17:25:59 871
Atendo todas as quartas-feiras na cidade de São Mateus-ES. Nesta quarta-feira (11/04/2018), especialmente, chego para os atendimentos clínicos e me deparo com a notícia principal estampada na capa do jornal diário da cidade, Tribuna do Cricaré: “Polícia prende suspeitos de matar Marcos Túlio”. Marcos Túlio aos 48 anos era professor de carreira no município de Jaguaré-ES, onde residia, che...
Psicopedagogia 01/02/2018 17:27:25
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Psicopedagogia 01/02/2018 17:27:25 872
A inspiração para escrever este texto nasceu da motivação de minha irmã gêmea, Jussara, que aos 54 anos inicia sua carreira profissional como professora. Vai ministrar aulas em uma escola pública estadual na cidade de Serra Negra – São Paulo. O que me deixou inspirado e entusiasmado é que minha querida irmã iniciou sua graduação aos 50 anos e escolheu fazer a formação em artes em um curso presen...
Psicopedagogia 11/10/2017 18:53:42
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Psicopedagogia 11/10/2017 18:53:42 893
Uma professora solicitou a minha orientação sobre como conseguir fazer seu filho criar o hábito da leitura. A professora estava decepcionada com o filho, que já estava no ensino médio e nunca tinha lido um livro inteiro ao longo de toda sua vida. Este menino sempre estudou em escola particular e parecia que ele lia apenas os livros que a escola exigia para as provas de livros. Também houve um te...
Psicopedagogia 12/09/2017 01:03:25
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Psicopedagogia 12/09/2017 01:03:25 972
O papel do professor na vida educacional das crianças desde as primeiras séries, mesmo quando ainda estão na creche ou pré escola, carrega uma forte simbologia para a vida dos alunos. Quem de nós não tem no imaginário um professor ou vários, para a vida toda? Pensar na escola sem professor é algo que nos parece bizarro. Pelo menos por enquanto. A principal função do professor ainda ...
Psicopedagogia 22/05/2017 19:30:26
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Psicopedagogia 22/05/2017 19:30:26 866
Tenho insistido com as escolas que é melhor diminuir a quantidade de tarefas escolares para casa e aumentar o número de livros para o aluno ler dentro do ano letivo. Mas esta minha solicitação sempre caiu no vazio, entra ano e sai ano as escolas continuam investindo nas tarefas para casa e indicando poucos livros para o aluno ler. Na maioria das que sugerem algo, o sistema é quase o mesmo. Faze...
Psicopedagogia 28/10/2016 19:13:06
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Psicopedagogia 28/10/2016 19:13:06 876
Todo ano, entra ano e sai ano, a história se repete. Alunos que não conseguem atingir um bom índice educacional durante o ano letivo entram em desespero, os pais procuram ajuda e nas clínicas psicológicas aumenta o número de famílias solicitando o diagnóstico neuropsicológico. Isso acontece pois algumas famílias deixam para procurar ajuda quando o problema pode levar o aluno à repetência, mesmo a...
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